Mais um texto do fim de 2007. Esse veio um mês depois daquele outro.
No jardim, depois da merenda, geralmente a professora (mais precisamente a tia) contava uma história pra gente. Todo mundo adorava aquele momento, e como dependíamos da tia pra ficar sabendo da história, ficávamos bem quietinhos, ouvindo atentamente cada palavra. Felizmente, no C.A., eu aprendi a ler e a escrever. E então, pude contemplar diversas outras histórias por minha conta, sem precisar de ninguém pra contar pra mim.
Mas, hoje eu não estou aqui pra contar nenhuma dessas histórias da tia do jardim, nem dos livros que eu já li. Estou aqui pra contar a Minha História. Uma história que eu mesma escrevi e que parte dela também foi escrita por mais umas 30 pessoas.
Pra começar, queria dizer que a Minha História, assim como a História da escola também se divide em a.C. e d.C.. Só que no meu caso, as siglas são de antes e depois do Cefet. Posso dizer com toda certeza que o Cefet é um marco na minha vida.
Quando eu vim fazer a inscrição pra cá, peguei um ônibus lotado, que demorou um tempão pra chegar, e quando chegou, desembarquei num lugar cheio de mato. Falei: ”Caraca, esse lugar é muito longe!”. Na época, eu tinha feito outras provas também, e pouco cogitava a possibilidade de vir estudar aqui. Queria estudar mesmo era no Maracanã. Mas, por míseros três pontos, eu não passei pra lá. Tinha passado pra cá e pro Cefeteq. Na hora de escolher, fiz o mais absurdo. Escolhi vir estudar em Santa Rita, morando a 10 quadras do Cefeteq. E nunca me arrependi dessa decisão. Eu diria que foi a escolha que mais me dá orgulho até hoje e me pergunto se seria tão feliz se não fossem aqueles três pontos.
Aí você me pergunta por que, Elisa, você escolheu estudar nesse mato, podendo estudar a 20 min. de casa? Porque eu queria encontrar gente nova, conhecer lugares novos, viver outras experiências... Se eu ficasse lá em Nilo, ia estudar e encontrar com muita gente que eu já estava cansada de ver na vida. Um pessoal, que, apesar de ser da ‘minha terra’, não tinha nada a ver comigo. Um pessoal que nunca estudou e que passou com uma nota mínima. E aqui eu encontrei tudo aquilo que eu estava procurando e até um pouco mais (abafa que o curso técnico deixou um pouco a desejar, mas nem tudo é perfeito, e ainda prefiro ele, a Controle Ambiental).
Encontrei gente de tudo quanto foi lugar (Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João, Rio de Janeiro, Mesquita, Paracambi...). Pessoas que respeitam as diferenças, que me entenderam como eu sou, e não tiveram medo de tentar me conhecer além da capa de “a menina inteligente”. Aqui eu conheci uma turma com os meninos mais amáveis e as meninas mais brincalhonas do mundo e que sempre se uniu em prol de um só objetivo. Coisa que eu nunca tinha vivenciado.
Aqui eu passei por momentos mágicos que só acontecem em lugares como o Cefet (às vezes quando as coisas estão muito felizes, eu fico só olhando e apreciando esses momentos em que nada de errado acontece e está todo mundo sorrindo), e por perrengues que eu nem te conto. Aprendi que liberdade rima com responsabilidade que também rima com amizade. E aprendi que o amor e a amizade têm o mesmo radical, na teoria e na prática. E se o amor é lindo, amizade é ainda mais, porque não há contrato de exclusividade. E eu experimentei a sensação de amar várias pessoas ao mesmo tempo tão intensamente, que nem acho mais a distância da escola tão grande assim.
Posso dizer, sem receios, que o Cefet mudou a minha vida. Entrei aqui criança e vou sair cidadã. Aprendi na prática o que todas as aulas de cidadania da outra escola tentaram ensinar. A ter consciência política, a cumprir com os próprios deveres e lutar pelos direitos que nos cabem. Era impaciente, crítica, mal-resolvida, meio ‘certinha’ e um pouco tímida. Vou sair uma pessoa mais tolerante, paciente (essa é mérito do Mateus), cheia de amigos, colando (tsi-tsi-tsi), fazendo micareta pela escola e interpretando altos personagens. Nunca que eu ia fazer essas duas últimas coisas se não fosse o Cefet.
Falando em personagens e nas peças dos trabalhos de português, outro dia eu estava pensando se um dia a gente fosse analisar esse nosso livro escrito a 30 mãos, Info 05-07 Eternamente, pra um trabalho, como seriam os tópicos. Ficou mais ou menos assim.
Espaço: Cefet-Ni, Santa Rita.
Tempo: De 2005 a 2007 no Cefet, de 2005 até a eternidade em nossas vidas.
Narrativa: A História é contada pelos vencedores. Somos todos vencedores. E apesar de sermos mais de 30 pontos de vista, acho que no final, as versões das histórias são bem parecidas. Já que o sentimento de orgulho de ter participado dessa turma maravilhosa é recíproco no coração de todos.
Personagens: Alunos da Info 05-07, professores, funcionários, etc.
Sinopse: 30 pessoas passam num concurso, vão parar num lugar inabitado e têm que aprender a sobreviver de um jeito diferente do que eles estão acostumados. Mas no meio dessa selva, eles vão encontrar algo muito mais valioso que o ouro e que vai mudar suas vidas.
Infelizmente, toda história que começa tem um fim. No dia em que a gente fez aquela bagunça na escola, eu achei que eu ia chorar, mas estava num êxtase tão grande, que só conseguia sorrir, mesmo com todo mundo aos prantos. Mas, outro dia, eu estava sozinha no ônibus e comecei a lembrar de tudo o que a gente passou junto e percebi que a história que escrevemos foi tão linda, que aí sim meus olhos se encheram d’água. E daí, eu chorei em vários outros dias depois desse. É lindo ver como a história de pessoas tão diferentes, de lugares totalmente diferentes, se confundiu por três anos. É lindo saber que você fez parte dessa história, que você fez a diferença na vida de alguém (ou algo), e que esse alguém também fez diferença na sua vida.
E a emoção do final também fica por conta da certeza de que nunca mais viveremos nada igual, e da incerteza do futuro que nos espera (‘because it is unwritten’, não é, Felipe?). Da sensação que temos que teremos que abandonar nossa história em conjunto e nossos seriados (todos eles: ‘Malhação’, ‘A Grande Família’, ‘Bost’, ‘Zeroes’, etc) para cada um estrelar seu próprio spin-off e reaprender a viver e a escrever sozinho, como um dia aprendemos lá no C.A.. Mas agora eu estava pensando aqui: “Caramba, essa história da gente é tão boa, que, se eu ainda estivesse no jardim, ia querer ouvi-la todo dia”.
and it seems like another person lived that life a great many years ago from now,
When I look back on my ordinary, ordinary life,
I see so much magic, though I missed it at the time.
Photograph - Jamie Cullum
*O gordinho não é o cara que canta a música de verdade
Eu fico maravilhado com td q vc escreve! *-*
ResponderExcluirEssa menina tem um dom!