sábado, 2 de outubro de 2010

Filmes vs. Livros

A primeira coisa que eu gostaria de dizer para você, leitor que sai do cinema reclamando que mudaram toda a história dos livros e fizeram tudo diferente na adaptação para as telonas é: Eu te entendo. Nunca cheguei a ficar revoltada como alguns, mas também já tive 15 anos e fiz listinha de diferenças entre livros e filmes. Eu sei como é ficar catando essas coisas pra ficar discutindo depois.

E a segunda coisa que eu gostaria já de antecipar é que, apesar de tudo, eu acabo sempre sendo um pouco condescendente com as versões cinematográficas baseadas em obras literárias. Tendo a defender os filmes (mesmo que não mereçam) porque, no calor do momento, eu tendo a ficar do lado dos fracos e oprimidos que ninguém toma o partido. O que não quer dizer que não me reserve o direito de mudar de idéia mais tarde.

Outra razão para geralmente eu ficar do lado das películas é que meu amor por minha série literária favorita nasceu de um filme. Um que foi 90% diferente do livro. E que eu tinha gostado pra caramba muito antes de descobrir que era livro porque, mesmo assim, o filme era legal. E acontece que esse filme 90% diferente foi o responsável por permitir que a tal série literária fosse até o final. Então, desculpe, você não vai encontrar aqui nesse post uma declaração de revolta contra os produtores de cinema que adaptam até demais um livro quando vai para telona.

Linguagens Diferentes, Coisas Diferentes
Porque, por causa dessa experiência precoce e edificante, eu entendi muito cedo que filmes e livros são coisas diferentes. E são coisas diferentes porque são LINGUAGENS diferentes. E, se tratando de linguagens diferentes, nada mais comum que se façam mudanças também no processo de adaptação.

É impossível transpor tudo aquilo que está no livro para o roteiro. Tem certas coisas que funcionam nas páginas, mas não funcionam nas telas; tem outras que funcionam nas telas, mas não funcionam nas páginas; e ainda aquelas que não funcionam nem nas páginas e os roteiristas têm a presença de espírito de não colocar no filme também.

Sim, eu também concordo que na maioria das vezes os livros são mais legais. Contudo, entendo que a maioria dos comentários sarcásticos e mais interessantes dos livros às vezes pode soar forçados num filme. Vide a resenha do genial Alta Fidelidade.

E não dá pra pôr todo o material literário num filme assim ao pé da letra por causa do tempo*. O diretor só tem umas 2 horas para contar aquela história. E eu concordo com ele quanto a essa restrição, porque quando eu vejo que um filme tem pra lá de 3 horas eu já fico com o pé atrás. Primeiro porque eu penso que vou perder meu dia assistindo a um único filme podendo estar fazendo um milhão de outras coisas e ainda ficarei com a poupança quadrada no final. Ele tem que ser muito bom pra me manter atenta e me fazer esquecer da fome e da eventual vontade de ir ao banheiro no meio durante essas 3 horas. E depois porque, se o filme for ruim, a tortura se arrastará por uma tarde inteira!
*Outra coisa: Filmes mais curtos garantem mais sessões por dia, o que gera mais $$$ pros estúdios.

Foi mal, mas prefiro os filmes mais curtos. E quando eu vejo esses super-longa-metragens, eu quase sempre me pergunto: “Mas será possível que o diretor não podia enxugar um pouquinho esse negócio, não? Não é possível que todas essas cenas sejam assim tão essenciais!”.

No livro é legal ver um monte de tramas paralelas e os detalhes, etc, porque quem dita o ritmo da leitura é você. Agora num filme, sério, gente, as pessoas têm mais o que fazer. Imagina só transpor para um só filme NA ÍNTEGRA a história de um livro de mais de 500 páginas! Haja paciência! E, como eu já tinha dito, nem sempre colocar tudão que o livro tem de melhor garante um filme legal.

 2 livros cheios de referências a filmes...

Muita gente metendo o bedelho
Outra questão importante a ser levantada e que justifica as tais mudanças ou uma diferença de qualidade no conteúdo das obras é que no “processo de fabricação” de um livro você tem envolvidos o escritor, o revisor, um editor e praticamente só isso. É muito mais fácil chegar a um acordo caso haja alguma divergência e para a realização do livro de fato, só o que o escritor precisa é de um pouquinho de inspiração, um monte de transpiração e um computador para digitar todas as ideias.

Quando você fala em cinema, depende de muito mais gente. Tem os atores, os roteiristas, os figurinistas, os cabeleireiros, o cenógrafo, o fotógrafo, o pessoal dos efeitos especiais, o diretor, os produtores e principalmente, o pessoal do estúdio. Isso porque no livro só se tem uma variável envolvida: a palavra, que é concreta. E se ele for ruim ou bom, a responsabilidade é toda do escritor. Agora no filme tem esse monte de outras coisas que separadas formam um bando de categorias para o Oscar e juntas fazem uma obra ser boa ou ruim, e de uma maneira quase subjetiva até.

E quando eu destaquei ali em cima “principalmente o pessoal do estúdio” é porque são eles que liberam o dinheiro. E sem dinheiro, não rola. E como eles é que tem a bufunfa, também são aqueles que têm maior poder de decisão sobre a película. É o estúdio que vai liberar o orçamento, as contratações e vai aprovar ou não tudo o que entrará no filme. Se ele não estiver satisfeito com alguma coisa, manda mudar, coloca na rua, substitui profissionais, corta cenas, enfim.

Isso porque o estúdio está preocupado com o dinheiro e com a sua própria reputação. E não está errado, não! Você daria o seu dinheiro para um projeto e deixaria os caras fazerem o que querem? É o seu nome que vai aparecer lá também! Só que aí cabe a todas as outras partes envolvidas entrarem num acordo, caso discordem de algum ponto. Aí, sei lá, o escritor bate o pé, o diretor diz que não vai aceitar desse jeito, o ator fala que só for pra fazer um projeto assim prefere sair... Aí uma parte cede de um lado, a outra cede de outro... Ou então ninguém cede, o estúdio manda, e cancela a bagaça toda. Ou faz do jeito que ele quiser.

E tem conflito de agendas também, ou o ator que iria ser perfeito não sabe atuar, o diretor quer deixar a sua marca no projeto... Milhões de coisas podem acontecer! Deu pra perceber que o entendimento para fazer um filme envolve muito mais gente (e muito mais dinheiro) e por isso, é muito mais difícil de tornar realidade do que um livro?

Livros em série, Filmes nem tanto
Certo. Pois então, como eu estava dizendo, quem manda no final das contas (literalmente) é a grana e nem sempre adaptar as obras ao pé da letra é viável por questões de linguagem etc. E isso acontece muito no processo de transposição de livros em série para as telonas.

Gente, coloca uma coisa na cabeça de vocês. As séries estão cada vez maiores. Só que nem todas elas são Harry Potter e realmente dão retorno* e nem são possíveis de se fazer mais de 3 filmes.
*E quando eu falo retorno, eu não falo apenas de bilheteria (que geralmente são maiores para filmes com efeitos especiais caríssimos e muitas cenas de ação). É venda de DVDs e milhões de produtos licenciados também (sim, bonequinhos, cadernos, mochilas, lenço de assoar nariz, papel higiênico... Isso tudo faz parte, não seja bobo! Você acha que os caras não pensam nisso tudo antes de decidir adaptar uma franquia?)

Primeiro porque eles não rendem aquilo que é esperado. E pra fazer continuação, pelo menos o primeiro tem que lucrar. E depois porque:
1)    Muitos desses livros sozinhos realmente não dão um filme inteiro assim com um final satisfatório.
2)    Se a série for muito grande, haja briga entre todos os integrantes da produção a cada vez que for fazer uma seqüência tanto por questões financeiras, quanto por razões criativas e...
3)    Os atores envelhecem muito mais rápido do que o ritmo das filmagens.

Pra você ter uma idéia, nem o Homem-Aranha, que é o Homem-Aranha e bateu um monte de recordes de bilheteria, conseguiu emplacar uma 4ª seqüência com a mesma equipe.(O estúdio e o diretor não entraram em acordo. Mandaram o diretor embora e vão reiniciar a franquia agora com o Peter adolescente).

E para não ficar com a série incompleta na telona, muitas vezes se opta por um filme que compacta a série toda em um só. Eu particularmente acho essa uma saída muito interessante. A gente reconhece partes de vários livros e dá até pra ser fiel ao que se propõe a fazer. É claro que vai cortar praticamente tudo. Mas é mais fácil de fazer um filme divertido e não corre o risco de o pessoal que não leu o livro ficar sem final (e eu odeio quando isso acontece).

E eu entendo que em algumas séries os livros (ou pelo menos os primeiros volumes) funcionem sozinhos. Às vezes acho que seria até mais fácil (e mais legal) se adaptassem só o primeiro e deixassem o resto sem filme, se fosse o caso. Mas fazer o quê, né? Não dá pra ganhar todas!

E sabe quando eu comentei lá no início que eu também fazia listinhas de diferenças de filmes vs. livro. Pois é. Depois eu fui descobrir que, ok, eles mudaram coisa à beça, desnecessariamente até, mas seria inviável transpor a série toda para o cinema por causa de todas as razões que eu já citei (volumes demais, incapacidade de fazer todos os filmes com o mesmo elenco, brigas de produção...). Fora que, quando compraram os direitos para o filme, não tinha saído nem o primeiro volume ainda. E pra um filme que não se sabia se ia ter seqüência (essa sim, completamente dispensável) realmente, aquele final foi muito mais interessante.

 E um filme sobre um cara que escreve um livro...

Detalhes tão pequenos de nós dois
Ah, sim, outra coisa: cada pessoa imagina os personagens de um jeito. É impossível agradar a todo mundo. E eu prefiro um ator carismático que capte a alma do personagem do que um que fisicamente é idêntico, mas é de uma inexpressividade dolorida. Cor do cabelo, cor do olho, mancha na orelha... Pra mim é praticamente irrelevante. E às vezes, vamos combinar também, tem umas descrições que ficam praticamente impossíveis de se seguir!

E outras que são até inúteis. Tem autor que prefere deixar o personagem com o mínimo de descrição possível para que o leitor possa se imaginar no lugar dele, sabia? É uma das razões pelas quais eles deixam uma atriz ruiva interpretar uma personagem loira, um cara de olho verde fazer o mocinho que tem olho azul, etc! Porque tem vezes que TANTO FAZ!!! Vamos deixar de sermos tão cri-cris e parar de reclamar dessas coisas minúsculas e bestas tipo: “Ah, mas a unha do dedo mindinho da Fulana estava cortada 1 mm mais curta do que descrevia no livro!”.

Conclusão
Como já disse lá no início do texto, tenho certa condescendência com relação aos filmes porque eles me levaram aos meus livros favoritos (e não só esses lá do início da década) e inclusive deram sinal verde para que muitos deles pudessem ser publicados.

Nessa “guerra” de livros vs. filmes, os dois saem vencedores. Hollywood ganha com boas histórias e filmes arrasa-quarteirão com direito a muitos produtos licenciados. E o mercado literário aumenta à beça suas vendas.

E se os filmes ficarem legais, e, apesar de diferentes, mantiverem o espírito dos livros, sempre os defenderei porque existem mil razões para eles não poderem ser 100% fiéis. Muito embora nem sempre essas razões me convençam de que um filme não poderia ter ficado melhor. Depende do caso.

E é isso que eu queria que você guardasse desse texto. Cada caso é um caso. Umas adaptações são fiéis por alguns motivos, outras não são por outros. Algumas ficam boas, outras não. E isso ainda é muito subjetivo. Depende de quem vê.

Só não vamos sair execrando as coitadas das películas somente por elas não seguirem os livros à risca. Não é o fim do mundo. Vários desenhos que a gente assistiu quando era criança modificaram E MUITO as versões originais. E ninguém morreu por causa disso. Critique-as sim, mas dentro das suas limitações.

Pra mim, no geral é o seguinte: se os filmes continuarem levando as pessoas para os livros, mesmo que o filme seja ruim já está bom. Mas isso sou eu e bom, eu já disse que defendo até os filmes que não merecem, então, pelo menos essa última frase você não precisa levar muito a sério.

3 comentários:

  1. Ah, eu sou que nem você. Mudo muito de idéia, do que gosto e não gosto, quando o assunto é livros e filmes.

    Antes dos 18 anos, eu amava filmes. Assistia muitos deles e até fazia uma lista de todos que eu já tinha visto era tipo uns 300 em 3 meses.

    Quando, aos 18 anos, eu descobri a maravilha que eram os livros, eu passei a ler 1 por semana e entrei numa média de 1 filme a cada 2 meses!

    Eu gosto MUITO mais de livros, é a verdade. O caso é que eu nunca vi um filme que eu já tenho lido o livro, ou lido um livro que eu já tenha visto o filme. Me dá uma sensação de ver coisas repetidas.

    Eu já acho que quando um filme é chato (Senhor dos Anéis) ou MUITO chato (As Crônicas de Nárnia), o livro tende a ser pior.

    PS: Lisa, soltou a mão nesse post aí hein! Dava para ter feito em umas 10 partes! Ok, 2.

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  2. 99% das vezes eu prefiro os livros aos filmes, claro. Mas não desmereço os filmes por isso e não entendo como as pessoas ainda esperam que seus livros sejam perfeita e detalhadamente adaptados ao cinema.

    Eu simplesmente adoro quando o autor deixa o personagem com o mínimo de descrição possível, sério. Me dá mais liberdade de montar as coisas do jeito que eu quero. E irrita aquele povo reclamando da cor do cabelo, da roupa e sei lá o que mais que tava errado no ator.

    O único ruim de ter um livro adaptado ao cinema, na minha opinião, é quando a coisa adquire proporções exageradas e a modinha toma conta. :x

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  3. Eu nem posso falar muita coisa dos filmes, porque quase não assisto nada. Mas concordo que muitas vezes seria melhor adaptar apenas o primeiro da série, ou compactar a série toda.

    Um que é MUITO diferente do livro é "Os delírios de consumo de Becky Bloom", mas mesmo assim muito divertido. (Pena que o Luke totalmente sem sal) Também gostei das adaptações dAs Crônicas de Nárnia e A Irmandade das Calças Viajantes.

    Só tem um que eu não engulo mesmo, o DP2. Mia sem Michael não desce, hauhauhau.

    Beijos

    PS: Além de não conhecer Resgate e não gostar muito do melhor CD da Aline Barros, o Felipe acha Nárnia muito chato??? oO kkkk

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