quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um Grande Garoto

É engraçado como a cada livro que leio de Nick Hornby, a última leitura se torna a minha preferida do escritor, mesmo que eu não tenha seguido a ordem cronológica da obra.

Comecei com Uma Longa Queda (2005) e gostei. Peguei seu maior sucesso Alta Fidelidade (1995) e vi por que ele é considerado o pai da literatura pop. Adorei e me identifiquei totalmente em Juliet Nua e Crua (2009). Mas só agora pude colocar as mãos em Um Grande Garoto (1998), o motivo pelo qual me interessei pelo trabalho de Hornby, uma vez que, como já havia comentado, o filme homônimo (2002) estrelado por Hugh Grant, Toni Collete e Rachel Weiz é um dos meus preferidos.

E Um Grande Garoto (livro) também entrou para o hall dos meus livros favoritos. É o melhor de Hornby que eu já li (e me arrisco a dizer até que seja o seu melhor trabalho, mesmo sem ter lido seus outros livros), porque se em outras experiências nossos encontros sempre tiveram ligeiros momentos de oposição de ideias, nesse não houve nada disso e aprovei as escolhas do Tio Nick do início ao fim. Um Grande Garoto é coração puro.

Will tem 36 anos e não faz nada. É isso aí. Nada! Seu pai escreveu uma canção de natal muito famosa e ele não precisa trabalhar, pois sobrevive da grana dos direitos autorais da tal música. É descolado, detesta compromissos e tem pavor de paternidade.

Um dia ele vai a uma loja de discos de um cara pra lá de rabugento que se mete no gosto dos clientes chamada Championship Vynil (dá-lhe meta-referências, hein, Nick!) e avista uma mulher bonita. Num outro dia, ele pensa ter encontrado a mesma mulher numa sorveteria e resolve puxar papo. Não era a mesma mulher, mas era inegavelmente interessante. Ela só tinha um problema: era mãe solteira. Mas, Will resolve arriscar e logo percebe que se relacionar com mães solteiras é... ótimo! A partir daí, ele coloca na cabeça que esse é um nicho a ser explorado. É por isso que Will passa a freqüentar as reuniões da PSU (Pais Solteiros Unidos) - seu filho se chama Ned, tem 2 anos, e sua mulher o abandonou com a criança - e é também por causa disso que ele tem sua vidinha perfeita invadida por...Marcus.

Marcus tem 12 anos, é avoado, esperto e esquisito. Tem uma mãe totalmente alternativa que canta músicas com os olhos fechados, e sofre de bullyng na escola principalmente porque de vez em quando é pego cantando de olhos fechados também no meio da aula, no meio do corredor, no meio da rua... Mas o maior problema de Marcus mesmo são os números. Não, na verdade ele é bom em matemática. O negócio todo é que ele vive sozinho com a mãe. E, quando esta não só começa a apresentar sinais de depressão, como de fato tenta suicídio na fatídica Manhã do Marreco Morto (pois é, quem tenta se matar é a mãe, mas quem morreu no dia, foi um marreco. Ótima a cena do marreco!), ele percebe que 2 é um número muito pequeno.

Marcus junta (1 + 2) e chega à conclusão de que Will é um bom partido para sua mãe. Porém, posteriormente, mesmo descobrindo que Ned na verdade não existe, ele passa a freqüentar a casa do cara e, ironicamente, Will – que vive como um adolescente - de certa forma ganha um filho que vai ensiná-lo a ser adulto e Marcus – que se comporta como adulto - ganha uma espécie de pai que vai ensiná-lo a ser adolescente.

Um Grande Garoto é o livro que melhor equilibra drama, comédia e cultura pop do escritor inglês Nick Hornby. Porque no meio disso tudo ainda tem o sucesso do Nirvana com Nevermind e a morte trágica de Kurt Cobain, que não só mostra a influência de um rockstar para um adolescente como faz um paralelo muito legal com a história da mãe do Marcus, para começo de conversa. Aliás, o título original (About a boy) é o mesmo de uma canção de sucesso do Nirvana da qual tenho uma divertida memória na 7ª série*, e, por isso mesmo, torna qualquer esforço de tradução ineficiente, muito embora, o título em português tenha sido uma escolha bastante sensível e inteligente (afinal, o “garoto” do título –em inglês E em português – pode ser tanto Will, como Marcus).
* Festival de Poesia do colégio. Durante os intervalos, apresentações artísticas de alunos que cantam, dançam, tocam algum instrumento. Um aluno, vamos chamá-lo de Kurt (como ele mesmo mandou chamar numa primeira aula de geografia com a professora nova naquele ano. É claro que nessa hora a turma caiu na risada porque ele não tinha nada a ver com vocalista do Nirvana! Não custa nada acrescentar que ele já era o mais zoado da escola antes disso por outros motivos ainda mais absurdos, e que, sim, suas atitudes pediam para que fosse zoado – taí o exemplo da aula de geografia que não me deixa mentir!), canta About a boy – numa versão traduzida que ele achou numa biografia do cantor, mas disse ter sido escrita por ele num momento de intimidade entre ele e a namorada.(Deu pra entender que ele era o tipo de menino que nenhuma garota ia se interessar, né?) Pronto! O povo se estragou de rir. A professora de português durante toda a apresentação se escondia atrás da plantinha na mesa porque não se aguentava. Ninguém levou a apresentação a sério. Histórico, simplesmente histórico esse dia.

Assim como o filme, o livro é ótimo. E a versão cinematográfica é bastante fiel, com vários diálogos literalmente transcritos na tela, a não ser pela época (o livro se passa em 1993 e o filme nos dias atuais, o que eliminou toda a trama do Nirvana). Ah, sim, também senti falta da frase antológica do Will no filme “Todo Homem é uma ilha. Eu sou Ibiza”. Mas, embora, o finais sejam diferentes por conta dessa diferença de 10 anos no tempo, ambos os fins são igualmente bons. O do filme é até um pouco mais climático.

Concluindo, Um Grande Garoto tem uma história que na mão de outra pessoa podia ficar piegas, moralista e didática, mas as situações inusitadas, os personagens envolventes e a prosa aconchegante de Nick Hornby cativam o leitor de tal maneira que é impossível não se apaixonar logo no capítulo.

E pra ninguém dizer que me pagaram pra falar bem do livro, a Rocco bem que podia trocar essa capa, hein! Não tem nada do espírito do livro, por favor! É só olhar essas outras que eu espalhei pelo post pra ver como são muito mais legais... Minha preferida é essa do Marreco Morto. Muito boa!

5 comentários:

  1. Acho que nunca assisti esse filme (tem cara de ser muito chato). Também não fiquei com muita vontade de ler o livro, apesar da sua resenha mega empolgada. Sei lá, não rolou química :P

    Que figura esse seu colega da música, hahaha.

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  2. Vc já é fã do Nick Hornby! Tô vendo vc subindo a escadinha da empolgação.
    Eu não sabia que isso era um livro, já vi partes do filme (só o final, na verdade - onde eu fiquei com MUITA vergonha alheia) e parece ser o de sempre. A criança que muda a vida de uma pessoa amargurada e tal.

    De todos os livros do Nick que você resenhou, só o primeiro chamou minha atenção, ainda quero lê-lo (e pra vc foi o mais fraco rs)

    Credo, a capa brasileira é quase fúnebre! Gostei mais da amarelinha, a do pato é muito non sense rs

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  3. até hoje procuro esse livro,sempre que vou numa livraria eu sempre procuro esse e o alta fidelidade,no final das contas,sempre aquele sorrisinho maroto com uma desculpa esfarrapada
    -no momento não temos esse livro

    bullocks!

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    Respostas
    1. Oi Rene, já procurou no Estante Virtual? Os livros do Nick são difíceis de encontrar mesmo, mas na internet sempre tem. NO Estante Virtual são até bem baratinhos, pq são de segunda mão.

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  4. vou pensar no caso,é que eu tenho aquela vontade de sentir o cheiro de coisas novas(é foi um argumento estranho).

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