quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Vamos salvar o mundo das cáries!

- Alô, amigo! Alô, amiga! Você que acompanha o Inútil Nostalgia de manhã, de tarde, ou de noite. Hoje eu vim aqui pra dar um recadinho pra você que já está cansado daqueles livrinhos indesejados, você que revira os olhos toda vez que vê um daqueles romances sobrenaturais vergonha alheia. Porque agora as prateleiras, e os canais e os cinemas estão cheios dele, né, Claudete? Vampiros, lobos, anjos, fadas, dragões, zumbis... Mas chega dessas coisas do mal. Vamos falar de coisa boa! Vamos falar de Overbite!

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Overbite é o 2º e último volume da série Insatiable de Meg Cabot (e quando eu falo Meg Cabot, você já sabe que eu estou falando de um produto de qualidade) e traz de volta toda a sagacidade e frenesi de seu antecessor. E embora ache muito sábia a decisão de não estendê-la além daqui - já que é uma série que daqui a uns 5 anos talvez soe anacrônica e as piadas não façam mais sentido – e que ela terminou de um jeito absolutamente satisfatório, também penso que as aventuras de Meena e Cia ainda rendem mais um caldo e não me importaria se Tia Meg um dia resolver escrever uma eventual seqüência daqui a alguns anos (eu mesma já tenho até alguns palpites de tramas que poderiam ser exploradas).

Como já vi que o título da continuação da saga de Meena está levantando dúvidas com relação a seu significado, acho que vale uma história e uma aulinha de odontologia. Overbite originalmente ia se chamar Craving (Desejo, Paixão) - título absolutamente irônico se você levar em conta que Meena era roteirista de novela e Paixão já foi nome de uma mexicana protagonizada por ninguém menos do que o eterno Carlos Daniel, Fernando Colunga. Não que a Meg tivesse consciência disso. Mas, sabe-se lá por que razão (na verdade, sei sim, mas isso eu conto daqui a pouco), acabou que o nome foi trocado para o título atual.

De acordo com o dicionário, Overbite significa Mordida Profunda [odontologia], o que não acrescenta muita coisa. Então, fui perguntar para meu amigo Douglas, que faz odonto, a solução de tal mistério. A 1ª reação dele ao receber a indagação foi: "PRA QUE VOCÊ QUER SABER ISSO?", afinal de contas não é todo dia que alguém lhe vem com uma dúvida dessas assim do nada (mas sério, pra que ter um amigo 50% dentista - ele ainda está na metade do curso - se você não puder fazer esse tipo de pergunta? rs). E depois ele explicou que era "a oclusão defeituosa em que os dentes incisivos e caninos superiores se projetam anormalmente sobre os inferiores”. Em bom português ortodôntico, quem tem mordida profunda é o popular “Dentuço". Esclarecido o mistério, deixo meu recado para a Galera Record não inventar moda na hora de escolher o título nacional. É "Mordida Profunda" NA VEIA!!!!

Aí eu fui procurar uma foto de aparelho e achei um site em que o nome do médico era Dr. Cullen, hahahaha!

- Overbite é COISA SÉRIA, gente! Você não vai acreditar, mas um dentista outro dia me ligou e me disse que recomenda Overbite pro pacientes e as pessoas ficam até com o sorriso mais bonito!

Em Insaciável, Tia Meg não só deu aula de Como fazer Vampirismo Clássico em séc. XXI, como sambou na cara da sociedade com uma trama muito bem estruturada que criticava toda essa infindável febre de um jeito irônico e inteligente.

Ficou até difícil de escolher o que era mais genial. O fato de existir uma novela sem fim numa história sobre criaturas que não morrem nunca (assim como o desejo do público por elas também), o inferninho do Dimitri (já comentado na resenha anterior), o fato de todos os vampiros da vida real, que de alguma forma sugavam a vida de Meena, eram vampiros mesmo, o vampiro-galã-canastra também ser vampiro de verdade, a revelação de que eles estavam por trás de toda a vampiromania, ou ver a crise financeira de 2008 mandando lembranças em diversos momentos desde o desemprego do Jon até as negociações da TransCarta (e se você não tinha associado a situação profissional do Jon com o momento econômico dos EUA até agora, Meg fez questão de escrever com todas as letras nesse último livro).

Em Overbite, como não podia deixar de ser, Cabot continua desafiando o leitor a estabelecer conexões subliminares. Já nas 10 primeiras páginas, Meena descobre que seu ex-namorado David, que por acaso é dentista (hahahaha! Boaaa, Meg!) e dirige - um doce de dentadura pra quem adivinhar qual o modelo do carro dele - um Volvo (palhaça até a morte essa mulher), acaba de virar vampiro (ex-namorados! Esses são os sanguessugas da pior espécie. Pior que eles, só as atuais deles!). Também há mais um par de referências a cenas da saga do vampiro brilhante, incluindo até uma frasezinha brega com leão no meio.

Entretanto, as brincadeiras com outros dentucinhos da ficção estão em volume bem menor. O que prova mais uma vez como Meg é uma escritora talentosa e consciente. Afinal, dar um bom desfecho para seus personagens é muito mais importante do que tirar onda com os personagens dos outros. É como se Meg dissesse: “Ok, chega de brincadeira. Essa história aqui é minha e eu vou terminar esse negócio com chave de ouro é agora!”.

Seis meses depois do alvoroço do final do livro anterior, encontramos nossos personagens tentando tocar suas vidas. Para o desprazer de Mary Lou, a novela de Meena foi cancelada, e, para o prazer de Alaric, agora ela trabalha para os Palatinos. E embora o caça-vampiros não se canse de reforçar que vampiro bom é vampiro morto, Meena tem uma teoria a la canção de Roberto Carlos de que “se o bem e o mal existem, você pode escolher” e seu trabalho pode estar além de acertar o coração desses coisas ruins. Acrescente aí um bando de turistas cujos corpos encontram-se desaparecidos em NY e um padre muito suspeito que veio do Brasil ajudar nas investigações (mais sobre ele depois) e acho que já te deixei com mais água na boca do que as receitas da iogurteira Top Therm.

- Mas deixa eu falar uma coisa. O Brasil quer saber, Aracy. A Meena fica com o Lucien ou com o Alaric?
- Ah, eu não posso contar, né, Claudete! Senão estraga o final!
- Mas aposto que você torce pro Alaric, não é, Aracy Wolf?
- Claro, né! Tenho que puxar a sardinha pra minha família!


O romance é outra ponta que permanece em segundo plano por aqui, justificando apenas as motivações dos personagens e deixando espaço para o ritmo frenético da ação mais uma vez alucinante (a busca pelo livro do Lucien lembra uma mistura de Anjos e Demônios com Piratas do Caribe, só pra você ter noção). Contudo, este é desenvolvido com muita coerência e em nenhum momento tive vontade de voar no pescoço da protagonista e dar-lhe uns tabefes pra ela deixar de ser besta. Meg não deixa brechas para dúvidas e se, por algum acaso, você ainda não está raciocinando direito e “torcendo para o time errado”, ela faz o favor de reforçar a todo instante que, enquanto o cara de que você gosta for mentalmente instável e possa te agredir a qualquer momento, esse relacionamento não será qualquer coisa além de destrutivo. (Devo acrescentar que a parte policial do jornal está cheia de casos assim).

Mas é interessante notar que, apesar do antagonismo das duas pontas do triângulo amoroso, os dois têm lá suas semelhanças. Já reparou que tanto Lucien quanto Alaric só consomem o que há de bom e de melhor, mas ao mesmo tempo são cheios de “dad issues”? (É tanto problema com os pais que os dois podiam muito bem fazer uma pontinha em Lost, se a série ainda estivesse no ar. Aliás, dava um ótimo crossover esse! Imagina só: vampiros em Lost! Viajando total na maionese aqui...)
 
- Mas deixa eu falar uma coisa que eu sei que vai deixar você de queixo caído agora. A Meg fala do Brasil nesse livro. E muito!


Na resenha anterior, eu me perguntava se as citações ao nosso país eram mais uma brincadeira com aquela série com nome de entardecer ou se eram uma homenagem ao povo daqui que tratou a Meg como diva durante sua estadia no país tropical. Por isso que, quando fiquei sabendo que estaríamos praticamente no centro das atenções nesse livro, ao ler uma entrevista da escritora alguns meses antes, eu tive ainda mais certeza de que precisava desse livro o mais rápido possível.

Ao final de Overbite, fiquei com a sensação de que foi um pouquinho dos dois, porém, muito mais a segunda do que a primeira opção. Deu pra ver Tia Meg se esforçando pra mostrar o quanto ela aprendeu por aqui, mesmo ainda cometendo alguns erros típicos de gringos quando falam de nós. Se ela soubesse português, eu diria até que andou lendo o Inútil, porque, se eu fosse fazer uma trama com vampiros no Rio de Janeiro, olha, ia ser alguma coisa mais ou menos nesse nível.

Então, né, vocês não sabem mas minha inspiração veio mesmo depois de descobrir que aquela apresentadora loira que causou tumulto na Bienal na verdade tem ligações muito suspeitas com as criaturas das trevas.
(Mentira)

Henrique Mauricio (que nome mais novela mexicana? Mas gostei do nome, tendo em vista a profissão da Meena e já está melhor que Ramon Riveras*) é um padre da arquidiocese de São Sebastio (tá legal que se fala São Sebastião, mas valeu a pesquisa de colocar o padroeiro do Rio) e é recordista em mandar os vamps cariocas para a conta do papa. O clã de sanguessugas do RJ veio direto do coração da Amazônia (alô, Meg, aquela floresta que você viu perto do Pão de Açúcar era Mata Atlântica. Amazônia é lonjão do Rio, fica a dica) chama-se Lamir e domina a favela do Vidigal (porque traficante não deixa de ser um tipo de vampiro, né? Genial! UPP neles!!!).
* E já que estamos falando de DP, acho eu que Dona Meg já vinha querendo sacanear os vampiros há muito mais tempo. Tem uma passagem veladíssima em DP9 que tenho quase certeza ser direcionada à série em que vampiros têm bebês (corre lá, pág. 232), e num desses meus dias de tédio, estava lendo uma transcrição de chat dessa mesma época em que a Meg falava que quis escrever DP9 desse jeito para mostrar que depressão adolescente é normal, mas andava sendo retratada de um jeito muito esquisito (toma, Bella!). Ah, sim, só pra não perder o fio da meada, o sobrenome da melhor amiga da Meena, Leisha, é o mesmo da Lana.
** E já que estamos estabelecendo intertextualidades com outros livros de Meg, vale o destaque para a melhor amiga brasileira da Meena, também integrante dos Palatinos, Carolina de Silva (só conheço gente “da Silva”, mas, de novo, valeu o esforço, já está melhor que Ramon Riveras, e o sobrenome assim deixa os fãs da Mediadora felizes :P) de São Paulo.

Ó a Catedral de São SebastiÃO aí! Fica lá no Centro, atrás da Carioca.

Toda vez que o Brasil entrava em campo, a história ganhava tons de piada interna e um sorriso ocupava o meu rosto. E quando a Mary Lou falava que as pessoas do Brasil eram muito gentis, desculpa aí outros países, mas levei pro lado pessoal, rs! A única coisa que eu acrescentaria era desenvolver o negócio do Dimitri no Brasil, que pra mim seria dominar o país empresariando bandas de axé e organizando micaretas (um troço igualmente demoníaco, vamos combinar). Mas aí também ia ser piada interna demais (se bem que levando em consideração a historinha de New Jersey ser uma boca do inferno, acho até que seria justo).

- Overbite é light, é diet, faz bem pra saúde, pra pele, pro coração, pra mente e pro espírito! É QUALIDADE DE VIDA, gente! Melhor do que isso só Iogurte Top Therm, porque tem o dobro de lactobacilos vivos!


Só não digo que Overbite é tão bom quanto seu antecessor porque o outro é tão obra-prima, perfeição total, que chega até ser covardia comparar (mais ou menos como DP3 ou DP10 com o resto da série). Porém, o livro cumpre muito bem o seu papel de colocar os vampiros em seu devido lugar e encerra a série por cima (queria um final desses desde o primeiro volume, simplesmente porque era o único fim possível e coerente com a história que vinha sendo contada até ali) e com gostinho de quero mais.

Se você já leu o primeiro, aposto que agora não vê a hora de cair de boca nesse daqui. Se ainda não leu nenhum dos dois, não sabe o que está perdendo. E pra quem tem pavor de dentista, mas acha que vampiros brilhantes são inofensivos... Fica a dica, acho que você está com medo da pessoa errada.

- Ia ser bom se os dentistas começassem a colocar esse livro nos consultórios ao invés daquelas revistas velhas, né, Aracy?

5 comentários:

  1. Nossa, nem sabia que já tinha lançado. Ainda não li Insaciável, mas leio ainda este ano. Quando a Record vai lançar Overbite, você sabe?

    Amei saber que tem partes do livro no Brasil.
    Sério que ela confundiu Amazônia com a Mata Atlântica? Hahahaha (Olha quem fala: Aquela que já discutiu com a amiga porque tinha certeza que Los

    Angeles ficava na Flórida e Orlando na Califórnia.)

    DP9 é o único que eu não tenho. Terei que passar numa livraria pra conferir essa página 232.

    A Catedral de São Sebastião é uma das minhas referências no RJ. Nunca entrei, mas sei que dá pra reconhecê-la do avião e do Corcovado.

    DP10 é perfeito, não tem comparação MESMO! O 3 é quase perfeito.

    Bjos

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  2. Elisa!!!!

    Post sensacional!!!!

    Eu comprei overbite semana passada... e já ja vou ler ele!
    PEna que é o ultimo livro... =/

    Mas sua resenha me deixou super curiosa... histórias sobre o brasil? =D e se ela continuar sendo ironica que nem no primeiro livro, irei amar, nada melhor do que dar umas esculhachas em umas historinhas por ai...

    bjos

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  3. AI QUE INVEJA!

    Eu quero! hhahahaha Amazon já!!!

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  4. Lisa, eu queria MUITO ler esse texto, parece estar ótimo, mas como ainda não li Insaciável (e estou com ele aqui em casa) volto aqui depois que eu terminar o primeiro volume pra não pescar um spoiler.
    Dei uma olhada por alto e parece sensacional! Assim como aquela primeira resenha *-*

    Prometo que volto ;)

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  5. Cíntia, na verdade o livro não têm PARTES no Brasil. Só personagens que vem daqui. E assim, tb não fica muito claro que ela confundiu mesmo Amazônia com Mata Atlântica, mas sabe como gringo acha que tudo é Amazônia, né? Tb nunca entrei na Catedral de São Sebastião (#cariocadearaque), mas tenho passado ali em frente quase todo dia. :) A Record deve lançar o livro ano que vem. Já começaram até a tradução. \o/

    Thais, lembre-se que o conhecimento de Meg sobre Brasil é bem limitado, então apesar de aparecer bastante, o Brasil é coadjuvante (rimou!). Mas garanto que o país tem mais destaque que Amanhecer.

    Karol, não precisa ser Amazon, não! Na Saraiva já tem. Está 39 pratas e entrega no mesmo dia em São Paulo!!!

    Felipe, SAIA DESTE BLOG e vai ler Insaciável. JÁ!!!!

    Bjs,
    Lisa

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