Quando eu era pequena tocava violino. Não costumo comentar isso porque as pessoas sempre ficam com aquela cara de surpresa, querem saber como era, porque parei, etc (“Era legal, mas me estressava muito, dava muita confusão dentro de casa, chegou uma hora em que eu já não curtia mais e parei. Não, não toco mais”) e eu não sou muito de ficar dando satisfação da minha vida pros outros. Mas, resolvi compartilhar essa informação por aqui porque achei relevante para o post de hoje.
Na época, minha mãe achava aquilo o máximo. Ela se sentia por ter uma filha que tocava violino. Fazia altos planos sobre em que orquestras eu iria tocar profissionalmente até! (Uma coisa que nem passava pela minha cabeça!). Na visão dela, música clássica era sinônimo de “cultura”. Como se a cultura erudita fosse o único tipo de manifestação relevante e que realmente fizesse a diferença na vida das pessoas. Um pensamento que não poderia ser mais errado.
A cultura popular é tão ou mais importante do que aquilo que é cultuado pelos mais abastados, mais entendidos ou mais influentes. Porque, querendo ou não, é a cultura popular que acaba por reproduzir os trejeitos e desejos mais íntimos de um povo. Mais do que isso, o pop é responsável por unir pessoas e não deixar que conversas ou pedaços de vida sejam preenchidos por um vazio sem graça.
Esses dias estive conversando com uma amiga que se queixava de não haver nada em sua vida que fosse efetivamente bom, que parecia que nada mais lhe dava prazer.
Enquanto tentava animá-la a descobrir algo que ela gostasse de fazer, pensei em como estava a minha própria vida. Em como aconteciam coisas que eu também não gostava constantemente. Problemas sérios que pareciam que nunca iriam se resolver. Em como os dias, na maioria das vezes, também não tinham nada de especial. E em como, mesmo assim, eu não me sentia assim, infeliz, sem ver sentido nisso tudo, do jeito que ela se sentia.
Me lembrei de algumas vezes em que me senti triste, meu dia estava uma droga, e fiquei de saco cheio de tudo. E de como, muitas vezes, só de ler um texto num blog, uma notícia da Anne, ouvir uma música do Jamie ou conversar com os amigos sobre essas coisas sem sentido e que teoricamente não acrescentam nada para nossa vida, eu me senti melhor. De como essas paixões ensandecidas movimentam a minha vida de vez em quando. De como elas parecem movimentar a vida de tantas outras pessoas também.
Minha irmã me disse que eu sou uma pessoa naturalmente alegre. Que eu tenho dificuldade em ver o cinza, mesmo ele estando bem na minha cara. Talvez seja verdade. Mas talvez a cultura pop também tenha sua parcela de culpa nisso tudo.
Ou não foi graças ao Diário que fiz algumas das minhas melhores amigas (e vivi alguns dos melhores momentos da minha vida)? Ou graças a esses fenômenos trash da TV que fazem meus colegas do Cefet se falarem até hoje? Ou graças ao blog que conheci um bando de pessoas legais?
Tem gente que pra esquecer os problemas bebe, fuma, entra nas drogas. Eu entro no Twitter, me afogo nesse mar de informações inúteis (ou não) que é a internet, solto umas boas gargalhadas, e me sinto curada para encarar mais uma.
(Pensa aí você agora nas coisas legais que a cultura pop trouxe pra você. Naquilo que você não teria coragem ou deixaria de fazer se não fossem esses vícios saudáveis. Nas pessoas que você deixaria de conhecer caso elas não existissem! Sua vida seria bem mais chata, não é verdade?)
O que me lembrou imediatamente de Um Grande Garoto do Nick Hornby. No livro, já resenhado aqui, a depressiva mãe de Marcus, abatida por um sentimento de que nada mais valia a pena, tenta suicídio logo no início, mesmo tendo um filho adolescente para criar. Ao passo que Will, um cara que realmente não tinha nada nessa vida, não passava por coisa parecida, pois preenchia muito bem sua vida em intervalos de 1h (Assistir TV, Cortar o cabelo, Relaxar na banheira...).
Em determinada passagem, Will fica com um medo terrível de que a mãe de Marcus (o nome dela agora me escapou da memória) lhe encurrale com a grande pergunta sobre o mistério e o sentido da vida. Isso porque, bom, não tem muito sentido mesmo. O negócio é viver um dia de cada vez. Com paixão. Tentando aproveitar ao máximo. Tentando ser feliz.
O pop tem esse poder de preencher as “cabeças vazias” a fim de que elas não se tornem “oficinas do diabo”. De transformar paixões fora de propósito em amizades e tornar momentos tristes, pelo menos, um pouco mais suportáveis. O pop tem esse poder de nos deixar loucos por alguns instantes, ao mesmo tempo em que evita que fiquemos loucos de verdade. De transformar dias sem nexo em horas especiais e fazer a gente esperar por alguma coisa - nem que seja o episódio do seu seriado preferido na semana que vem, o lançamento do aguardado último livro daquela saga no próximo ano ou um show no Brasil da banda do seu coração sabe-se lá Deus quando eles vão aparecer por aqui!
Talvez esteja faltando um pouco mais de pop na vida dessa minha amiga. Alguma coisa que a faça desligar o cérebro no final do dia, junte amigos, desperte paixões e sirva como válvula de escape de prazer.
A cultura pop oferece uma oportunidade de extravasar essa vontade de viver. É um meio de fazer as pessoas felizes. Querendo ou não, ela faz parte da nossa vida.
E existe algo mais relevante do que a vida e a felicidade das pessoas? Eu acho que não.
É disso que eu estou falando!
Na época, minha mãe achava aquilo o máximo. Ela se sentia por ter uma filha que tocava violino. Fazia altos planos sobre em que orquestras eu iria tocar profissionalmente até! (Uma coisa que nem passava pela minha cabeça!). Na visão dela, música clássica era sinônimo de “cultura”. Como se a cultura erudita fosse o único tipo de manifestação relevante e que realmente fizesse a diferença na vida das pessoas. Um pensamento que não poderia ser mais errado.
A cultura popular é tão ou mais importante do que aquilo que é cultuado pelos mais abastados, mais entendidos ou mais influentes. Porque, querendo ou não, é a cultura popular que acaba por reproduzir os trejeitos e desejos mais íntimos de um povo. Mais do que isso, o pop é responsável por unir pessoas e não deixar que conversas ou pedaços de vida sejam preenchidos por um vazio sem graça.
Esses dias estive conversando com uma amiga que se queixava de não haver nada em sua vida que fosse efetivamente bom, que parecia que nada mais lhe dava prazer.
Enquanto tentava animá-la a descobrir algo que ela gostasse de fazer, pensei em como estava a minha própria vida. Em como aconteciam coisas que eu também não gostava constantemente. Problemas sérios que pareciam que nunca iriam se resolver. Em como os dias, na maioria das vezes, também não tinham nada de especial. E em como, mesmo assim, eu não me sentia assim, infeliz, sem ver sentido nisso tudo, do jeito que ela se sentia.
Me lembrei de algumas vezes em que me senti triste, meu dia estava uma droga, e fiquei de saco cheio de tudo. E de como, muitas vezes, só de ler um texto num blog, uma notícia da Anne, ouvir uma música do Jamie ou conversar com os amigos sobre essas coisas sem sentido e que teoricamente não acrescentam nada para nossa vida, eu me senti melhor. De como essas paixões ensandecidas movimentam a minha vida de vez em quando. De como elas parecem movimentar a vida de tantas outras pessoas também.
Minha irmã me disse que eu sou uma pessoa naturalmente alegre. Que eu tenho dificuldade em ver o cinza, mesmo ele estando bem na minha cara. Talvez seja verdade. Mas talvez a cultura pop também tenha sua parcela de culpa nisso tudo.
Ou não foi graças ao Diário que fiz algumas das minhas melhores amigas (e vivi alguns dos melhores momentos da minha vida)? Ou graças a esses fenômenos trash da TV que fazem meus colegas do Cefet se falarem até hoje? Ou graças ao blog que conheci um bando de pessoas legais?
Tem gente que pra esquecer os problemas bebe, fuma, entra nas drogas. Eu entro no Twitter, me afogo nesse mar de informações inúteis (ou não) que é a internet, solto umas boas gargalhadas, e me sinto curada para encarar mais uma.
Aprecie sem moderação
(Pensa aí você agora nas coisas legais que a cultura pop trouxe pra você. Naquilo que você não teria coragem ou deixaria de fazer se não fossem esses vícios saudáveis. Nas pessoas que você deixaria de conhecer caso elas não existissem! Sua vida seria bem mais chata, não é verdade?)
O que me lembrou imediatamente de Um Grande Garoto do Nick Hornby. No livro, já resenhado aqui, a depressiva mãe de Marcus, abatida por um sentimento de que nada mais valia a pena, tenta suicídio logo no início, mesmo tendo um filho adolescente para criar. Ao passo que Will, um cara que realmente não tinha nada nessa vida, não passava por coisa parecida, pois preenchia muito bem sua vida em intervalos de 1h (Assistir TV, Cortar o cabelo, Relaxar na banheira...).
Em determinada passagem, Will fica com um medo terrível de que a mãe de Marcus (o nome dela agora me escapou da memória) lhe encurrale com a grande pergunta sobre o mistério e o sentido da vida. Isso porque, bom, não tem muito sentido mesmo. O negócio é viver um dia de cada vez. Com paixão. Tentando aproveitar ao máximo. Tentando ser feliz.
O pop tem esse poder de preencher as “cabeças vazias” a fim de que elas não se tornem “oficinas do diabo”. De transformar paixões fora de propósito em amizades e tornar momentos tristes, pelo menos, um pouco mais suportáveis. O pop tem esse poder de nos deixar loucos por alguns instantes, ao mesmo tempo em que evita que fiquemos loucos de verdade. De transformar dias sem nexo em horas especiais e fazer a gente esperar por alguma coisa - nem que seja o episódio do seu seriado preferido na semana que vem, o lançamento do aguardado último livro daquela saga no próximo ano ou um show no Brasil da banda do seu coração sabe-se lá Deus quando eles vão aparecer por aqui!
Talvez esteja faltando um pouco mais de pop na vida dessa minha amiga. Alguma coisa que a faça desligar o cérebro no final do dia, junte amigos, desperte paixões e sirva como válvula de escape de prazer.
A cultura pop oferece uma oportunidade de extravasar essa vontade de viver. É um meio de fazer as pessoas felizes. Querendo ou não, ela faz parte da nossa vida.
E existe algo mais relevante do que a vida e a felicidade das pessoas? Eu acho que não.
É disso que eu estou falando!
Oi Lisa!
ResponderExcluirQuanto tempo! hahaha
Eu sou total e completamente apaixonada pela cultura pop (vide o meu blog, que tem pop até no nome). Acho meio hipócrita esse povo que quer ser erudito e vive na chatisse. Penso que nem tudo que a gente consome precisa ser, necessariamente, instrutivo ou útil.
Na maioria das vezes os livros que leio - pra ficar em uma categoria - são aqueles que todos estão lendo e que não são tão bem avaliados pela crítica erudita, mas a partir do momento em que minha intenção é me divertir, pouca diferença faz isso.
O que vale é a capacidade desse entretimento de me tirar do ar e me divertir por aqueles breves momentos em que me ligo só naquilo. É legal, é divertido e suuuuuuuper relaxante.
Enfim, adorei o post! Como sempre, muito pertinente.
Beijão!
Eu nunca parei pra pensar no que é "pop". Simplesmente faz parte da vida de todo mundo, embora alguns gostem de negar. E tem o momento certo pra tudo: pra ouvir música clássica, pra fazer chapinha de microfone e dançar na frente do espelho com uma bem grudenta; pra ler um clássico e pra ler um chick-lit; pra ir ao museu e pra ficar em casa assistindo Chaves. A vida seria muito chata se tivéssemos que escolher uma coisa só, sendo que todas essas experiências diferentes servem pra nos acrescentar algo.
ResponderExcluirEngraçado que eu tô numa fase de querer fugir dos livros populares demais, mas de ouvir aquelas músicas que todo mundo sabe e até já enjoou (ao mesmo tempo, claro). Até eu fico espantada com tanta coerência em uma pessoa só, hahaha.