quinta-feira, 5 de abril de 2012

Uma garota com conteúdo

Ela via o mundo
Ele via o mundo
Viam sob a mesma luz
Isso é tudo e era tudo que havia entre os dois em comum


Pelo sobrenome na capa, você já deve ter reparado, a autora do livro é alguém da minha família. Mais precisamente a Esther. Minha irmã. A CEO desnaturada da CEO aqui no Inútil. (Aliás, cadê aquele texto que você me prometeu aqui pro blog, hein, Esther?)

E por isso, desde já tenho de pedir desculpas à minha irmãzinha pela demora na resenha, uma vez que escrever sobre o trabalho de alguém tão próximo não é tão fácil quanto parece. Além do mais, fui acometida pelo mal do peak dos adultos nos últimos meses (o que significa que trabalhei feito um cachorro) e estava sem tempo nenhum de parar para escrever alguma coisa pro blog mesmo.

Nicole daria qualquer coisa para NUNCA sair de sua casa. Não somente por temer ser vista por pessoas inocentes – sendo ela um monstro, calamidades devem ser evitadas –, mas por preferir fechar-se em um livro a abrir a porta de seu quarto. Quando o que ela busca é nada mais do que segurança, impedir que a arranquem de seu refúgio pode ser perigoso demais; deixando-a vulnerável e, pela primeira vez, sem palavras.

N.I. daria qualquer coisa para SAIR de seu colégio. Colegas de classe e professores chatos apunhalam-no e sugam o sangue de suas artérias nutridas pelo rock. E é justamente na música que encontra sua fuga para dias melhores, preenchidos então por goladas de refrigerante e uma multidão de garotas loucas por um pedaço seu.

Assim, Nicole é forçada a aceitar as conseqüências quando finalmente alguém a nota enquanto N.I. dedilha a vida em seu teclado de computador e, em sua guitarra, compassos que o fazem mergulhar em enigmas tão estranhos quanto nicknames, encontrando respostas para perguntas que nunca se atrevera fazer.


Uma Garota com Conteúdo aposta na fórmula ultimamente em alta, mas que, na época em que foi escrito - ah, sim, pra publicá-lo foi uma luta, então você pode fazer colocar alguns anos retroativos aí pra entender o contexto de algumas coisas -, quase não se via (ou pelo menos, EU não via): o narrador compartilhado.

Nos dias de hoje, esse recurso anda sendo desperdiçado por aí, inclusive. Acho até que serve como refúgio para alguns escritores que não sabem narrar em 3ª pessoa e apelam para a alternância de pontos de vista a fim de dar voz aos pensamentos de mais de um personagem (personagens demais, às vezes também). Ele deve ser usado com cautela, de forma que agregue e não simplesmente porque o autor achou legal escrever sob uma perspectiva diferente.

Não é o caso aqui. Narrado em forma de diário (ou “registro histórico”), a alternância de narradores funciona bem para evidenciar as diferenças entre os dois e equilibrar o drama da Nicole com as bobildices do N.I – mais conhecido como - Adônis.

Sua dedicatória foi bem mal-criada, hein, Dona Esther!

Com uma escrita mais sofisticada do que o usual (o que por vezes pode atrapalhar em se tratando de uma leitura leve), Uma Garota com Conteúdo foge do estereótipo “adolescentes falando gírias”. O que não quer dizer que seus personagens não sejam tipicamente juvenis.

Nicole, como boa discípula de Lorelai que é, solta mil referências pop por página e sonha com galãs das novelas mexicanas (quem gosta delas vai encontrar um prato cheio aqui). Mas não por isso deixa de ter opiniões ferrenhas sobre assuntos sérios ou tantos problemas de auto-estima que parece ser a personificação daquela música do Cazuza.

Adônis, por sua vez, é um menino diferente dos outros de sua turma. Está em busca da garota ideal, e não suporta meninas que não tenham nada a dizer. Mas nem por isso desgosta de ter seu ego massageado quando rodeado de garotas bonitas, ou tem apreço pelos ídolos teen que a mídia tenta nos empurrar goela abaixo. Ele curte mesmo é rock pesado! Mas sua formação é clássica. O menino toca violino*.
* Pra você que acha que os dois não combinam, está na hora de rever seus conceitos.

Ele era um aspirante a poeta
Ela era a inspiração
E pra ele qualquer coisa nela despertava uma canção
Ela que sempre buscava em tudo um porquê
Com ele bastava estar, sentir e viver

Esse amontoado de características aparentemente opostas faz de Uma Garota com Conteúdo uma oração subordinada adverbial concessiva (uma metáfora que a Nicole, e principalmente a Hannah, iam adorar). Mesmo sendo diferentes da maioria, lá no fundo, nossos protagonistas ainda são iguaizinhos aos meninos e meninas que conhecemos no colégio. E mesmo sendo tão diferentes um do outro (Ela escreve fics de Harry Potter. Ele só leu 3 livros em toda a vida!), quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?

Pra continuar com as metáforas, uma que agrade ao Adônis agora, Uma Garota com Conteúdo é um copo de Coca-Cola. Momentos de desligar o cérebro e apreciar a loucura total, sem nenhum compromisso com a verossimilhança. O senso de humor da Esther é aguçado (também, tinha que ser minha irmã, né?) e tira proveito de algumas piadas internas nossas e outros fatos marcantes (ou não) da mídia.

Quer dizer, você se lembra de um cantor teen – Pedro - com sobrenome de astro celeste que tentou pegar carona no sucesso do Felipe Dylon, apareceu no filme do Luciano Huck, e depois nunca mais se ouviu falar nele? Se não se lembra, bom, SORTE a SUA! Hahaha! Mas também é azar, porque é uma das minhas piadas favoritas do livro junto com aquela do rato na garagem (mais Uma Banda lá Em Casa impossível) e a referência ao Marcelo Camelo (essa foi genial!).

Mas voltando ao Pedro, para qual não foi minha surpresa quando descobri esses dias que Pedro “Lua” ainda vive!!!!!! Parecia até gente na foto, fazendo musicais dos Beatles! Ele é irmão da Roberta da versão brasileira de Rebelde da Record, e adivinha o nome da garota na vida real? LUA!!!! HAHAHAHAHAHAHA! Agora saca só o nome do resto dos irmãos: Ana Terra, Estrela, Daniel Céu e Marisol!!!!!  Na boa, melhor que a encomenda essa, Esther!

(E já que estamos falando de nomes, tenho que comentar que adoro o nome do Gusta. Gusta Cuerda. Adoro como ele soa divertido em qualquer sotaque, seja ele um carioquês, caipira ou mesmo portunhol barato. Eu misturo os dois. Meu carioquês com pseudocasteliano: Guxxxta Cuerrrrda).

Já no time das piadas internas o destaque vai para O Papa também veste Prada (e é sério! Ele veste MESMO!!) até a obsessão da irmã mais velha da Nicole, Sofia, por Anne Hathaway.

Aliás, acho que devia muito ter um spin-off da Sofia. A melhor personagem, sem dúvidas! Podia ter um volume Sofia encontra Anne Hathaway. Ou uma série de mistérios da Sofia. Ou um guia de viagens da Sofia. Ou até mesmo um livro de auto-ajuda da Sofia. Sacanagem, auto-ajuda também já é demais.

Embora a Nicole não concorde, acho que a lição que fica no final é de que a vida real, fora do seu próprio quarto e das páginas dos livros, pode ser muito mais interessante do que a ficção. Se você deixar que ela aconteça. A Sofia por exemplo, se deu benzão! rs

É claro que o livro não é perfeito e tem defeitos. Mas eu não sou nem besta de ficar comentando aqui porque: 1) isso é jogar contra o patrimônio e 2) Minha irmã ia me bater muito se eu fizesse isso e eu tenho amor à minha integridade física. Espero que ela não fique chateada com isso também... Ai! Tarde demais, ela leu!

Você pode comprar direto da editora. Ou no site da Travessa também. Se não estiver encontrando, faça lobby com o seu livreiro, pra que ele encomende mais.

O preço não é dos mais baratos, mas é porque a tiragem é pequena. Eu se fosse você corria e comprava logo o seu, antes que acabe.

Vai, corre!!!

3 comentários:

  1. O Felipe me emprestou o livro, mas eu estava lendo beeem devagar e acabei desistindo, por enquanto. Ando meio sem paciência com personagens adolescentes, e a Nicole reclama demais. Mas adorei o Adônis. Pra ser sincera, fiquei tentada a ler só as partes dele. Um dia, quando eu estiver mais tranquila e lembrar que também já fui adolescente, eu termino de ler ;)

    Cê jura que tem uma piada no fato da Sofia ser fã da Anne??? Nossa, nem tinha reparado =P

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  2. Adorei sua resenha :) Você obviamente tem uma ligação com a autora (é mesmo, Fernanda? mesmo?) e com o próprio livro e deixou isso claro antes de dizer o que tinha pra dizer.
    Pelo que você falou da Nicole aqui, me identifiquei bastante (ela escreve fanfic de Harry Potter!!!! hehe). Então provavelmente é um livro legal e divertido (hehe, brinks. Com certeza não é porque eu me identifiquei que parece divertido). Soa como uma daquelas histórias pra gente se desligar um pouco da vida por umas horas - e ponto extra se consegue deixar alguma lição bacana. Você já deve ter percebido que eu adoro histórias assim.

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  3. PARABÉNS!!! Você conseguiu fazer uma resenha sobre um livro da sua irmã sem desbandar pra nenhum extremo. Como já disse por alguns blogs por aí, quero muito ler porque o fato de sua irmã ter publicado um livro antes dos 20 anos (mesmo que tenha sido tão complicado, quem disse que não é?) é uma façanha!!! Eu acho!!! E ela tá de parabéns por causa disso porque sei bem como não é fácil terminar um livro (estou tentando há uns 15 anos e só agora estou sendo séria à respeito do negócio).

    E espero que a Esther continue escrevendo, escrevendo, até ficar velhinha porque dessa forma ela vai se aperfeiçoar e muito.

    Conhece alguém pra fazer um contrabando desse livro pra NY pra mim??? hehehe

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