sexta-feira, 14 de junho de 2013

Jamie Cullum para as massas

Na mecânica clássica, Momentum é o produto da massa e da velocidade de um objeto. Por exemplo, um caminhão pesado se movendo rapidamente tem um momento maior - é preciso uma força maior e mais prolongada para levar o caminhão a esta velocidade, e também de uma força maior e mais prolongada pra fazê-lo parar depois. Se o caminhão fosse mais leve, ou se movesse mais devagar, então ele teria menos momento.

Já faz sete anos que eu não aprendi essa matéria na escola e Jamie Cullum virou trilha sonora da minha vida. O ano era 2006, a novela era Belíssima, o single era Mind Trick e Jamie Cullum entrou no meu player para nunca mais sair. 

Hoje o ano é 2013 e muita coisa mudou de lá pra cá. Eu já saí da escola, da faculdade e estou procurando uma pós. Ele já tem mais de 30 (quem diria?), casou e agora é pai de duas crianças*. Mas uma das coisas que continuam as mesmas é a capacidade de Mr. Cullum traduzir em música exatamente os dilemas que estou vivendo.

Jamie Cullum, 33 anos sem pentear o cabelo

O novo álbum de Jamie não tem nada a ver com física (graças a Deus!), mas seu significado passa sim pela definição acadêmica do termo. Momentum traz um repertório com muito mais movimento e com letras sobre essa fase da vida em que se tem um pé na vida adulta e outro na juventude (afinal, é do autor de TwentySomething que estamos falando!) e as coisas ganham pesos, importâncias diferentes. O que só comprova a minha teoria de que Jamie Cullum é trilha sonora PRA VIDA.

Dito tudo isso, é com muito prazer que eu venho aqui registrar que Momentum é tudo o que eu sempre quis num álbum de Jamie Cullum. Mais metais, mais pop, mais músicas originais, menos covers só pra agradar os velhos.

Pela primeira vez, me apaixonei à primeira ouvida por um álbum de Cullum. E olha que eu o amo de todo o coração. Mas nunca tinha gostado tanto de um CD dele assim. De querer ouvir a toda hora. De não se decepcionar com nenhuma música. De ser capaz de ouvir todas as faixas sem passar nenhuma.

Okay, eu não gostei de Love for $ale assim que saiu, mas superado aquele rapzinho safado no final – estou pra encontrar alguém que gostou de verdade daquilo - a versão é muito, muito boa, praticamente outra música e em nada lembra a gravação clássica que Jamie já havia feito lá no início de sua carreira.

Mas, sem dúvidas, é seu melhor trabalho já lançado.

E com um potencial radiofônico para conquistar as massas impressionante! O disco está mais palatável, menos experimental, mais pop. Praticamente todas as músicas poderiam tocar numa rádio eclética sem fazer muito esforço. Já me imaginei cantando várias das músicas ao vivo à toda.

Everything You Didn’t Do é o primeiro single e puxa o disco, dando a vontade de ser feliz e fazer tudo o que você sempre quis. Ainda prefiro a versão gravada para o Festival de São Miguel com versos em espanhol, participações especiais, um rapeado hispânico – aqui sim, muito bem colocado -, mas aprendi a gostar dessa versão solo também. O engraçado é que, apesar de, no fundo serem a mesma música, as duas versões têm diferentes significados e impactos sobre mim. Enquanto a primeira, com partes em espanhol, tem clima de festa, congregação de diferentes línguas, povos, culturas e parece um convite a conquistar o resto do mundo, a segunda, solo, soa como uma alerta de que o tempo passa rápido demais para ser desperdiçado, tendo tanta coisa para se aproveitar.


Save Your Soul, Sad, Sad World e You’re Not the Only One simplesmente me conquistaram de um jeito que até eu me surpreendo às vezes. Talvez sejam as letras tão diretas que falam exatamente aquilo que eu precisava ouvir. Talvez seja o piano ritmado e tão bem casado com o resto da melodia. Talvez sejam os “Oooooooh” libertadores posicionados ali em pleno refrão. A questão é que eu não consigo não cantar sem fechar os olhos bem forte e entoar os versos como se fossem o hino nacional, com a mão no peito e tudo. Pra mim são a trinca coração do disco.

When I Get Famous é puro Jamie, daquelas pra cantar com um sorriso maroto nos lábios, rindo dos outros, rindo de si mesmo, de preferência com uma dancinha improvisada bem ridícula. A falsa introdução dramática, a letra sacana (no bom sentido), o ritmo impossível de ficar parado, o solo de piano moderninho no meio... Se há alguns anos ele anunciava que queria mesmo era ser uma estrela do pop, essa é a hora de jogar na cara de quem um dia o desdenhou! E o que dizer da ironia dos últimos versos “Cause when I'm looking from the top/ You'll all seem smaller/Ain't that what all us humans want?/To stand that little bit taller” vindo de alguém com só 1,64 metros?

Anyway é a delícia de pop escondida na metade do álbum em que absolutamente tudo funciona. Cool na medida certa, com um refrão que vai se infiltrar na sua mente, a música podia até estar num CD no Bruno Mars (esse novo pelo menos), não fosse a letra esperta que não só fala sobre o tempo como reflete um pouco da própria trajetória de Cullum, sempre à procura da batida perfeita, fazendo letras com piadas (vide When I Get Famous) para o terror dos puristas de plantão. Verso matador: “Always remember that the terrorists of time, well they ain't friendly” (e não só porque tem “terroristas” no meio).

Pure Imagination, música do Willy Wonka, composta pelo sogrão do Jamie (veja só, o mesmo de If I ruled the World!), podia ter entrado somente nas bônus e deixado espaço para Momentum (que, afinal de contas, dá nome ao disco. Jamie Cullum é desses...), mas ficou tão legal, que eu nem me esquento.

Completam o time: The Same Things (jazz moderno, Jamie e sua filosofia de bar), Edge of Something com toda a sua pinta de tema de James Bond (profético!), grandiosa a la Skyfall, a animada Take me Out (falando sério, a essa altura da vida, a gente não precisava de uma letra como Take me Out, mas a música é boa) e tão tranquila que parece canção de ninar Get a Hold of Yourself (uma delícia!).

Nas bônus, além da já comentada Momentum (talvez o hino da fase thirtysomething do Jamie), temos  a sonífera Unison (originalmente da Bjork, tinha que ser!) em que Jamie canta sobre como nunca pensou em se comprometer e um cover bacanudo de Comes Love.

Uma das coisas que eu mais admiro em Jamie é a sua capacidade de não se repetir, sem nunca deixar sua verdadeira personalidade. Ele está sempre se desafiando. E nos desafiando. E acrescentando elementos à sua música. (Amo Bublé, mas acho um desperdício que ele se limite a interpretar clássicos e agradar a sua plateia mais idosa, já que eles é que compram os CDs).

Ao mesmo tempo em que está igual, também está diferente. Ao mesmo tempo em que está diferente, está melhor. A intensidade das letras lembram os tempos de TwentySomething, as melodias contagiantes aperfeiçoam o que Catching Tales tinha de melhor. Após The Pursuit, que não tinha exatamente um tema fixo, Momentum vem com um Jamie Cullum falando sobre tempo, idade, sonhos, escolhas e com tudo isso aí, colega, pelo menos, para essa ouvinte daqui, o jogo já estava ganho.

*A única coisa que eu acho que Jamie ficou devendo foi uma música especialmente feita para as filhotas, falei. Mas talvez Momentum seja uma homenagem disfarçada...


Keep going, Mr. Cullum! Keep going!

E já tem 7 anos que eu venho esperando pra ver esse cara ao vivo. E se Jamie Cullum não vem mais à montanha, talvez seja a hora da montanha ir à Jamie Cullum. Quero cantar Save Your Soul com os olhinhos fechados, fazendo air piano. Quero pular sem parar ao som de Mixtape. Quero fazer minha dancinha pra participar do Video Project em When I get famous. Quero ver a corridinha de TwentySomething. Já nem faço mais questão do Mind Trick no set list. Pra você ver como eu gostei desse novo disco.


Imagina eu lá! Sério, Jamie, vem pra cá, garoto!

4 comentários:

  1. eu sou um jovem senhora, logo adoro os covers. =p

    ainda não ouvi o cd novo. vou ouvir e comparar nossas opiniões.

    tô aí nessa torcida pra que jamie volta ao brasil. quero ouvir Dindi ( acho a versão dele a mais fofa) em terras brasilis.

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    1. Oi Ju!

      Até gosto dos covers também, mas acho o talento do Jamie muito grande pra ser "desperdiçado" cantando músicas dos outros. A essa altura da carreira (e esse ano ele está completando 10 anos de contrato com uma grande gravadora) ele não pode mais viver à sombra dos grandes cantores do passado. Ele precisa mostrar que é um grande cantor NO (DO) PRESENTE.

      Ele é mais do que os rótulos de "jazz", "rock", "R&B", "soul", ele é...Jamie!

      Tem uma história sobre esse disco que ele conta que estava inseguro e perguntou pra mulher dele se devia colocar mais músicas de jazz no repertório. Aí a mulher falou: "Vc fez do seu coração, não fez? Então, pronto! Não precisa fazer mais nada". O que fez eu até ganhar um pouco mais de afeição por ela, já que sempre achei que ele tinha que ficar com a brasileira que ele namorava antes, porque trazia ele mais pra cá pro Brasil e ele cantava Dindi e tal (também acho a versão dele a coisa mais fofa).

      Ouça o disco mesmo. Só vc pra entender minha paixão pelo Jamie nessa internet, rs!

      Bjs
      Lisa

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  2. que bela e intensa resenha! estou IMPRESSIONADA!

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=Nb6Y1Zy3pvc
    se ainda não viu essa versão em casa dele, dê uma olhada! é perfeito!

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