sexta-feira, 3 de maio de 2013

O que você quer ser quando crescer?


“O que você quer ser quando crescer” talvez seja a pergunta campeã durante os encontros familiares. Ela começa a pipocar tão logo nosso nascimento, bem antes da também clássica “E os namorados?”. Mas é na adolescência, fim do ensino médio, que a questão ganha contornos de seriedade e gera crises de incerteza, indecisão e identidade.

Respondê-la na época da alfabetização é moleza e dá pra encarar numa boa baseando-se apenas nas profissões da Barbie. Eu mesma já quis ser médica, artista plástica e veterinária. Cheguei a levar a última um pouco a sério até ser mordida por um cachorro e desistir da ideia. Ainda bem porque seria péssima médica, não tenho tanto talento assim para as artes e bom, não estou nem um pouco a fim de ser mordida novamente.

Barbie Engenheira da Computação
O que eu quero saber é o seguinte: por que ninguém nunca fez a Barbie Contadora?

Felizmente, acho que acertei logo de primeira (ou talvez não tão de primeira assim). Mas infelizmente não é todo mundo que tem essa sorte e, quando não ficam desesperados, acabam desistindo de acertar.

“O que você quer ser quando crescer?” envolve uma jornada de auto-descobrimento, de olhar pra dentro e perceber no que se é bom, ou no que se pode ser realmente bom. E é difícil, muito difícil descobrir que você é e quem você quer ser.

Talvez por isso eu (e um monte de gente) se identifique com as histórias adolescentes (até hoje). Essa fase da vida projetada especialmente para fazer seus próprios amigos, começar a traçar o seu próprio caminho e desenhar a própria personalidade. Quase como um estágio para a vida adulta, é uma época muito rica, de descobertas a cada minuto (e eu que jurei que nunca escreveria uma coisa dessas!), de experimentar novas experiências, de poder ser o que você quiser e, por conseqüência, um processo de auto-descoberta muito mais complexo do que aparenta. 

(Ok, acho que não fui muito clara nessa parte. Eu realmente sou fascinada por essas histórias adolescentes em que, todo aquele universo de patricinhas, atletas e nerds, no fundo, escondem um conflito de identidade e de descobrir o seu lugar no mundo do qual é impossível não se apaixonar.)

Acho incrível o sentimento dessa fase da vida em que o futuro ainda é incerto, as possibilidades são infinitas, as opções são tão amplas quanto o horizonte e todos têm a certeza de que nada dará errado. Acho lindo mesmo todos aqueles futuros seja-lá-quais-forem-suas-profissões ali juntos passando pela mesma experiência e tentando encontrar o seu próprio caminho.


Mas... e se mesmo depois de ter passado por essa fase especialmente desenhada para se decidir o que você que ser, você não conseguir tomar essa decisão? E se mesmo depois de ter tomado essa decisão, você descobrir que afinal de contas não se conhecia tão bem assim e que...putz, escolheu errado? E se a sua cabeça te diz uma coisa, mas o coração diz outra completamente diferente? (É brega, mas é verdade) 

E se ao final desse processo você não conseguir descobrir aquilo que realmente faz bem, aquilo que te fará feliz? E se aquilo que te faz feliz não dá dinheiro? Porque é muito bom ser apaixonado pela profissão, mas o que adianta se não paga as contas?

Muitas vezes bate um desespero. O fulano se sente um fracassado. Quer dizer, se a escola é o lugar onde deveria acontecer todo esse processo que no final nos faria identificar aquilo em que somos bons, obviamente ele cometeu algum erro nesse “estágio para a vida adulta”. Alguns chegam a pensar que não são bons em nada. Que talvez seja impossível encontrar seu talento especial, porque talvez ele não esteja só oculto e simplesmente não exista. Desistem dos seus sonhos ainda ocultos até mesmo para ele. E aí surgem aqueles profissionais amargurados, que fazem tudo de qualquer jeito e nos fazem questionar erroneamente a integridade de toda uma classe, às vezes. Mais do que isso, se tornam pessoas amarguradas por se arrependerem de um futuro brilhante que poderia ter sido.

Mas e se eu dissesse pra você que mesmo depois de ter se encontrado, descoberto aquilo que te faz feliz, ter alcançado a auto-realização, a tal pergunta que não quer calar ainda vai ecoar na sua cabeça e você ainda vai continuar se perguntando “O que eu quero ser quando crescer”?

Que mesmo depois de formado e realizado, você continua se inspirando em um monte de gente e tentando encontrar seu próprio caminho? Que de tempos em tempos é preciso encarar todo aquele processo de olhar pra dentro, descobrir novamente quem se é, onde está e o que pretende ser.

Ao contrário do que nossos parentes sempre insinuaram, essa experiência de crescimento nunca acaba. Você muda o tempo todo. E é preciso se redescobrir novamente ao longo do tempo. E fazer novas escolhas que podem afetar toda a sua vida pra sempre, tal qual na época do vestibular. 

Às vezes a vida toma essa decisão pra gente e mesmo sem saber, acaba seguindo pelo caminho certo. Às vezes ela não dá dica nenhuma e você tem que quebrar a cabeça, analisar muito bem e tomar a decisão você mesmo. E aí é que a porca torce o rabo, porque tomar decisões é difícil. É assustador. Mas... quem disse que crescer seria fácil?

Mas se a indecisão bater à sua porta, não se desespere! Isso na verdade é motivo para se orgulhar! Porque quer dizer que você tem milhões de opções para explorar. E que quem está no comando da sua própria vida é você.

Seja quem você quiser

PS. Enquanto procurava fotos para o post, encontrei uma dessas de meme do Face que questionava por que a Barbie não parava em emprego nenhum. Fica a dúvida: Barbie: multi-talentosa ou infeliz na vida profissional?
PS2. Eles lançaram a Barbie Engenheira da Computação, mas, aparentemente, as engenheiras da computação não ficaram muito felizes com o visual da Barbie. Tem uns links legais aqui e aqui mostrando como deveria ser a Barbie que trabalhasse com informática mesmo.
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domingo, 28 de abril de 2013

200 posts e...Imagina na Copa!


Bem Amigos da Rede Internética!

Está entrando em campo o Inútil Nostalgia, há 4 anos no ar e completando a marca histórica de 200 posts.

Para comemorar, o blog veste hoje sua camisa especial, uma versão personalizada do manto sagrado, trazendo o número 200 nas costas.


E para aqueles que dizem que os jogadores de hoje em dia não sentem mais o peso da camisa (até porque as camisas de hoje são feitas de um material muito mais leve do que o algodão da década de 50), devo lhes confessar que vinha adiando esse post há algum tempo. Talvez eu tenha sentido o peso da camisa mesmo.

Depois de passada a temporada de decisões em que tive de ficar concentrada com o resto da equipe, passo agora por um momento pessoal de repensar um monte de coisas. Talvez esteja na hora de mudar de clube e a todo momento me pego tentando traçar outras estratégias e esquemas táticos que possam trazer a vitória a médio ou a longo prazo.

E pensar nessas coisas sérias às vezes me deixou meio desanimada, sem vontade de grandes comemorações. Escrevi alguns outros posts, queria ter escrito até mais, mas a sombra do ducentésimo post (sim, eu pesquisei) continuava pairando a cabeça da blogueira junto com esse monte de problemas que insistem em se acumular e a promessa que ela tinha feito de promover uma coisa diferente para celebrar a conquista.

No meio de tudo isso, o país inteiro parece suspirar futebol com a proximidade da Copa das Confederações e a inauguração dos estádios e as finais dos estaduais e o chocolate levado por Barca e Real Madrid na Champions.

E ao mesmo tempo em que eu dizia para mim mesma que não valia a pena fazer o que eu havia planejado fazer e que ninguém ia ligar, o mundo todo mandava sinais para deixar de ser besta (além dos motivos já explicitados, ainda recebi um comentário inesperado e inspirador e assisti um filme bem mais ou menos, mas que tinha futebol, e futebol faz tudo ficar melhor) e com essa exposição do futebol na mídia o momento é mais do que propício à primeira promoção do Inútil, que não tem a menor vergonha de se apropriar de um dos memes mais do que batidos da internet, para criar suas regras. Mas tudo bem, porque nossos governantes também não têm vergonha de inaugurar o Maracanã inacabado, então, estamos quites.

PROMOÇÃO INÚTIL NOSTALGIA:
IMAGINA NA COPA!

Bom, ainda sou nova nessas coisas de promoção, então tudo é muito simples. Só que a execução não é tão simples assim.

O desafio é o seguinte: Criar uma anedota, historinha - coisa curta, de uma página no máximo (ou um pouco mais, sei como esse negócio de limites é difícil, rs) - que tenha como tema o bordão “Imagina na Copa”, ou apenas “Copa” no meio. A mais legal (ou conhecendo o entusiasmo dos leitores do Inútil, talvez a única!) vence.

Ah, sim, claro, esqueci da parte mais legal do concurso. Não vale usar “Copa” como sinônimo de “torneio, campeonato”. Vamos pegar o dicionário e redescobrir (ou inventar) os outros significados para a palavra. Sem fazer muito esforço, me vêm à cabeça umas 2 ou 3 definições.

Para participar, mande sua inscrição para o formulário de contato ali do lado. E só. A promoção dura até quando eu achar que vale a pena aguardar novas inscrições.

Ainda estou decidindo o prêmio. (Vou fazer como a Ju e estabelecer premiações surpresas pra ver se animo vocês!)

Além das inscrições tradicionais, também estamos aceitando desenhos, montagens e qualquer outra coisa que sua criatividade bolar (juro que o trocadilho foi sem querer). Caso você queira realmente mandar sua inscrição via canal audiovisual, hospede em algum site e cadastre o link ali no formulário.

Sejam criativos e não tenham vergonha de qualquer bobagem que lhes vierem à mente. Garanto que qualquer ideia será melhor do que as três sugestões para nome do mascote que nos foram apresentadas.


E é isso. Sei que a promoção é meio fuleca, mas, aproveite, porque a concorrência será baixa (mandando a sua história, é bem capaz de você ganhar por W.O.) e talvez seja o único concurso de Copa que você tem chances reais de ganhar!!!
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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Defina: Azar


Semana passada, mais uma tragédia tomou conta dos noticiários do Rio de Janeiro: um ônibus capotou de um viaduto, voou e caiu em plena Avenida Brasil. Sei que o ônibus caiu por causa da briga entre o motorista um passageiro, que o acidente matou 7 pessoas e só porque nessa semana que passou não tive tempo de assistir nenhum jornal, já que estava lá, no meio da rua, sofrendo com o resto do povo, tentando chegar em casa.

O acidente aconteceu na última terça-feira, dia 2 de abril, e como tinha saído no meio da tarde pra buscar o resultado de um exame, deixei o trabalho, por volta das 19h30. Peguei o metrô numa boa, desci na Central, e na maior tranqüilidade, entrei no meu Japera, sem problemas. Chovia um pouco e o trem logo saiu da estação. Uma mulher chegou até a elogiar:

- Hoje o trem tá rapidinho. Chega um, sai o outro, chega um sai o outro. Não podia ser assim sempre? Eles devem estar com um esquema de segurança por causa do acidente na Brasil. Você vê só como eles têm trens sobrando, né? Por que não colocam pra rodar? É uma safadeza essa Supervia.

Parecia que ela tinha premeditado, porque o trem andou uns 10 minutos, e na altura do Méier, no meio do caminho, ele parou. E lá continuou parado por mais 50 minutos!!!!

Pensei: “Não bastava ter o acidente na Brasil, tem que dar problema no trem também!”!

Ficamos todo esse tempo sem nenhum aviso por parte do maquinista (alguns achavam que ele tinha morrido), e eu só fui descobrir o motivo da paralisação porque entrei no Twitter da SuperVia (@SuperVia_trens) e vi eles respondendo os questionamentos dos passageiros em tempo real. Segundo eles, havia ocorrido uma queda de energia em Deodoro, o que paralisou praticamente todos os ramais. Parabéns, SuperVia! Nota Dez em interatividade na internet. Nota Zero em prestação de serviço e comunicação pelo alto-falante.

Quando o trem finalmente conseguiu estacionar em Eng. Dentro, percebi que daquele mato, não ia sair cachorro. Desci da estação. Isso já eram 21h da noite. E chovendo. Peguei um ônibus pra Cascadura, já com os pés todos molhados. Quando eu chegasse lá (coisa de 15 minutos), pegava um ônibus pra N. Iguaçu e se desse tudo certo, eu logo estaria em casa.

Não deu. Ao chegar ali na rodoviária de Cascadura, logo percebi que não tinha nenhum N. Iguaçu no ponto. E que tinha uma fila enorme ali esperando por ele. Saquei logo que aquilo não ia dar certo. A solução foi ir andando até Madureira, pra ver se pegava um ônibus por lá, já que mais à frente passam outros N. Iguaçus saídos de outros lugares.

Pensei: “Não bastava ter o acidente na Brasil, tem que dar problema no trem, estar chovendo e não ter ônibus pra pegar”!

E lá fui eu, andando, na chuva, na lama (só pra lembrar tem uma obra infinita por ali, o que torna tudo mais sujo e mais difícil), no meio da rua. Nisso já deviam ser umas 22h. Pensei em pegar um táxi, mas nesse tempo de chuva, com esse caos no trânsito, com todo mundo sofrendo pra chegar em casa, cadê que passava um vazio?

Passou um N. Iguaçu lotado (possivelmente saído de Cascadura) e ouvi um homem reclamar: “Mas não vai parar de passar N. Iguaçu lotado, não?”. É, a coisa estava pior do que eu pensava.

Vários ônibus escrito GARAGEM passavam. Algumas pessoas se questionavam: “A essa hora ainda tem trem?” Ao passo que eu tinha que responder: “Não vai contando com o trem, não! Saí de lá porque está tudo parado!”. E todos compartilhavam aquele olhar condescendente de “Classe Média Sofre, hein!”.

Milagrosamente, parou um ônibus saído da Praça Seca vazio, e pegou todo mundo que estava no ponto. Todo mundo mesmo. Ele ficou uns 15 minutos parado, e catou todo mundo. Nessa eu entrei. Fui em pé. Mas tenho de dar graças a Deus porque consegui entrar. E nem posso reclamar muito porque nem estava entupido de gente igual ao outro ônibus que tinha passado há pouco. E lá fomos nós.

Quando estávamos chegando a Marechal, um engarrafamento enorme. Os veículos virando numa rua que não está no itinerário do ônibus para fugir do trânsito. Um pouco mais à frente, a explicação: TUDO ALAGADO!

Pensei: “FERROU! Não bastava ter o acidente na Brasil, tem que dar problema no trem, estar chovendo, não ter ônibus pra pegar e ficar preso no meio da rua! Não vou chegar em casa hoje! E eu já estou super-cansada porque fiquei em pé durante 1 hora e andei mais um bocado depois”!

Lembrei de um outro episódio, pelo qual passei por situação parecida, há uns 3 anos. Planejei o post para o blog. Porque a maratona estava longa e estava mais do que evidente que eu tinha material suficiente para um post.

Até que o motorista foi esperto e cortou caminho por Guadalupe. Entrou em umas ruas que eu nunca vi, mas foi rápido e felizmente, fugidos daquele pedaço de Marechal, mais à frente, encontramos pista seca. Se o alagamento persistisse até Deodoro, Anchieta, seria o fim.

Por volta de 23h30 eu consigo soltar perto de casa. (Isso aí! 4 horas pra chegar em casa!!!!!) Planejei o que iria fazer quando entrasse pelo meu portão.

Ufa! Cheguei! Vou jantar uma comida bem gostosa (estava com desejo de lasanha de microondas e muita, muita FOME), tomar um banho, me esparramar no sofá, (nem vou entrar na internet hoje que estou muito cansada), colocar o DVD de 30 Rock, dar umas risadas com Liz Lemon e dormir.

Mas ao chegar perto da minha rua, logo percebi que alguma coisa estava errada. O Habbibs estava aceso, mas logo à frente, as quadras estavam num breu sem fim.

Não pode ter faltado luz! Não pode ter faltado luz! Não pode ter faltado luz! Hoje, não! Por favor!

É. Estávamos sem luz.

Não bastava ter o acidente na Brasil, tem que dar problema no trem, estar chovendo, eu ter que ir andando até Madureira, enfrentar um pedaço do caminho alagado, estar cansada e com fome, quando eu finalmente chegar, a casa tem que estar sem luz!!!!!!!!

É isso aí! Quando a gente está com sorte, não tem jeito! E sabe o que é pior? É que só estavam sem luz umas 3 ou 4 quadras próximas à nossa. O resto da cidade, parecia normal.

Lá se foram meus planos de comer lasanha e ver 30 Rock

Minha mãe disse que a luz tinha caído lá pela hora do Jornal Nacional. Já eram mais de 23h. Legal, não ia voltar tão cedo.

Jantei fora naquela noite – no quintal. Um jantar à luz de lanterna, que ilumina mais. Minha irmã nem estava em casa pra eu desabafar com ela (não agüentei e liguei pra ela!) e contar da minha maratona.

Mas que isso sirva de lição pra vocês que quando você acha que nada mais pode dar errado, ah, colega, podes crer que ela é possível, sim!

Tanto é que nos outros dois dias seguintes, o trem deu problema de novo e descarrilou 2x no mesmo lugar. A minha sorte (uma hora ela ia ter que aparecer!) foi que quando descia do metrô na quarta, encontrei um amigo do trabalho, voltando do trem, me contando da bagunça que estava a estação (mesmo assim, bota aí mais 1 hora de metrô até a Pavuna, mais chuva e meia hora de ônibus na conta) e no outro meu pai me avisou e eu fui de bus do Centro mesmo.

Acho que acabou, mas essa semana foi dureza, viu!
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terça-feira, 2 de abril de 2013

Caos no Bob’s


Quando eu era pequena, sair pra rua era sinônimo de permissão para comer besteira. Pizza Hut, Bob’s, Mc Donalds, Habbibs... Acho que o negócio não era nem os brinquedinhos do kit infantil, porque meus pais nunca foram de comprar o kit que vinha com os brindes mesmo, mas o simples prazer não precisar comer comida de verdade na janta.

Depois que minha irmã ficou doente (há exatos 10 anos) e entrou numa dieta especial que meio que, senão proibiu, restringiu algumas comidas, isso nos afastou do mundo dos fast-foods. Se eu vou ao Mc Donalds duas vezes no ano é muito. E devo confessar que não senti a menor falta.

Nos últimos anos, até que eu tenho ido até um pouco mais por causa desses dias que quando dá 18:00 é só o início do segundo turno da jornada de trabalho. E ao contrário do que eu pensava quando era pequena, hoje eu dou tudo por um prato de arroz com feijão.

Desde pequena sempre preferi o Bob’s ao Mc Donalds, mesmo que o Mc Donalds tivesse brindes melhores. O sanduíche do Mc é muito seco, sem graça. Ao passo que o Big Bob tem aquele molho saindo pelas beiradas, sujando aquela caixinha azul e vermelha. E você sempre pode pedir pra customizar o seu sanduba, tipo "sem cebola ou com mais queijo", que eles não ficam cheios de calafrio como no Mc. E tem um milk shake mais gostoso também.

No entanto, o Mc Donalds tem a melhor batata. Não sei quantos milhões de conservantes eles colocam ali (por favor, vai dizer que vocês acreditam nessas propagandas do Mc que ficam mostrando aquelas plantações maravilhosas?), mas o negócio é que a batata deles não tem comparação. Nunca comi do Burger King (ainda), mas dizem que lá é onde tem o melhor hambúrger.

Então, para um lanche supimpa, a combinação seria: Hambúrger do Burger King, a batata do Mc Donalds e o milk shake do Bob’s.

Mas se você levar em conta a fila das três redes de fast-food, logo você desiste dessa ideia idiota, porque até você conseguir juntar tudo, a batata ou o sanduba já estariam frios.

O atendimento no Bob’s sozinho já desafia o conceito de fast-food. Ele pode até ter o melhor milk shake, mas é só isso mesmo. Não importa a filial, as mesas têm sempre aquele aspecto sujo e os funcionários nunca vão conseguir atender você rápido ou bem.

Não foram poucas as vezes em que me estressei com a falta de pró-atividade de seus funcionários. Pra falar a verdade, o Bob’s é conhecido por esse seu problema operacional de não fazer jus ao rótulo de fast-food, já que nada por lá é rápido.


Mas acontece que teve um dia em eu estava com fome. Desculpe, eu me expressei mal. Eu estava MORRENDO DE FOME!!!! Tinha tido um dia MEGA estressante, ia fazer serão, às 18:00 saí do cliente pra encontrar com a sênior no escritório, e sabia que se eu não comesse alguma coisa, não ia conseguir fazer mais nada e ia acabar jogando alguém pela janela.

Ultimamente tenho até preferido comer no Subway, porque o sanduba é mais gostosinho, mais saudável, a gente se estressa menos, os funcionários são mais atenciosos, mas nesse dia eu estava com um pouco de pressa não queria perder 20 minutos subindo as escadas do shopping e pedindo um Subway. 

Então, espertamente, por já saber desse probleminha operacional do Bob’s, quando desci em frente ao escritório, que tem um Bob’s do lado, pedi o número do telefone, pra pedir Delivery lá em cima. Quando estivesse pronto, depois eu descia e pegava as coisas na portaria, mas não ia ter que encarar a fila, o caixa, os funcionários perdidos, todas essas coisas já conhecidas do Bob’s.

Quando chego lá em cima, ligo pro Bob’s (só lembrando mais uma vez, eu estava MORRENDO DE FOME!):
- Alô, eu gostaria de fazer um pedido, por favor.
- Pedido? Pedido é só pela internet agora.
- Mas eu acabei de pegar o panfleto aí com vocês agorinha.
- Desculpe, senhora, só pela internet.

Eu podia ter pedido pela internet, mas estava com muita fome, e achei um desaforo ter que fazer o pedido pela internet, tendo a parada ali embaixo. Sem contar que, vai saber como essa central de pedidos online funciona, e vai que ele manda pra uma filial lá no fim do mundo e eu fico mais de uma hora esperando um hambúrguer. Quer dizer, não é impossível, é do Bob’s que estamos falando!

Por que, Senhor, a moça não me disse que eles não atendiam pelo telefone quando eu pedi o papelzinho pra ela????

Mito!

Decidi abreviar o sofrimento. Desci pra fazer o pedido pessoalmente mesmo.

E, vou te contar, já tive experiências ruins no Bob’s. Mas sem dúvidas essa foi a pior. (Acho que talvez porque eu estivesse com mais fome).

Quando desci, não tinha praticamente fila nenhuma e fui logo atendida, muito embora desse pra perceber que dos 3 caixas só 1 estava funcionando e esse ainda parecia estar com o sistema travando. Pedi um trio Big Bog. O mais simples possível, já pra não dar problema.

Tinham uns 10 funcionários ali. Mas dos 10 só 3 pareciam estar trabalhando mesmo. Alguns estavam limpando as coisas, outros olhavam para o nada. A gerente não demonstrava nenhum sinal de preocupação. A mulher do caixa brigava com a máquina.

A fila começou a crescer e chegou uma mulher pedindo só o sanduíche. (Nessa hora o caos já se instalava no local, porque já tinha um atraso considerável e ninguém, NINGUÉM, conseguia ser atendido.) A mulher percebeu o caos e reclamou com o marido: 
- É por isso que eu não gosto de vir no Bob’s. Você percebe a diferença do Bob’s pro Mc Donald’s. No Mc Donalds as coisas funcionam. No Bob’s não. Em qualquer unidade, NADA funciona.

Ela reclamou também da falta de higiene dos funcionários que não estavam usando luvas (o marido falou que as luvas tinham sido abolidas porque elas acumulavam mais bactérias do que se eles estivessem sem), e da ausência de um álcool em gel pra eles desinfectarem as mãos então...

E aí eu, que estava cheia de fome, tinha tido um dia horrível, e ainda ia trabalhar até mais tarde, resolvi abstrair. Quer dizer, gente, é o Bob’s! Ao invés de ficar com raiva, comecei foi a rir da situação. Ri da mulher revoltada e mostrei pra ela que na verdade tinha um negócio de álcool em gel sim, escondido ali do lado da máquina do milk shake, ao passo que nem isso a convenceu de que alguém ia usá-lo porque estava muito distante da cozinha. Ri de novo, um sorriso do tipo: “Ah, colega, aí você também já está querendo demais”. Uma coisa é ter a parada, outra coisa é usar. E ela estava reclamando que não tinha... E isso era mentira!

Queria saber quem tem coragem de comer o sanduba com o papel

A mulher já estava arrependida de ter pedido o Big Bob.

E eu logo percebi que devia ter pedido só o sanduíche também, porque tinha uma menina limpando o negócio das batatas e tirando várias queimadas cheias de óleo dali de dentro. E sem a menor pressa. E de um jeito meio nojento mesmo.

E tudo bem que eu tinha pedido o trio, e a batata não ia sair tão cedo, mas não tinham nem se dignado a separar a minha bandeja, pegado o refrigerante, botado o sanduba lá, essas coisas... Eu já tinha pedido tinha uns 10 minutos e os caras nem se coçaram pra COMEÇAR a me atender!!!!!!

Minha irmã falou que na faculdade ela aprendeu sobre uma doença chamada Crise de Ausência, em que a pessoa fica olhando para o nada, vendo a vida passar, sem dar sinal de estar conectada com o universo. Talvez os funcionários do Bob’s tenham Crise de Ausência. Talvez o Bob’s só contrate pessoas com Crise de Ausência. Deve ser alguma exigência, ou coisa assim. Ou talvez essa seja a explicação.

Depois de mais uns 5 minutos, eles montaram minha bandeja e eu tive que avisar que era pra viagem de novo. Mas no fim, consegui levar meu lanche infectado, eu comi e fiquei feliz. O sanduíche já estava meio frio. E a batata, sabe-se lá Deus como tinha sido frita (resolvi ignorar todo o caos que também afetava a cozinha naquela hora e comi assim mesmo). Mas, como dizem, o melhor tempero é a fome, e eu achei tudo muito gostoso, matou minha fome e eu voltei a trabalhar feliz.

É claro que se eu tivesse pedido um podrão da esquina sairia mais satisfeita. Seria mais rápido, mais gostoso, seria mais bem atendida, o sanduíche viria com bem mais coisas, mas eu precisava de um cupom fiscal pra pedir reembolso depois e isso, infelizmente, o podrão (ainda) não dá.

Fico me perguntando como é que o pessoal do marketing deixa a empresa ser alvo desse tipo de piada? Como a marca registrada da cia pode ser o caos que é o seu atendimento? Como é que pode uma empresa desse porte se manter no mercado com essa fama horrorosa há mais de 50 anos?

Depois eles ficam reclamando, se perguntando por que o Subway está crescendo tanto. Hello, no Subway, eles não têm funcionários do mês. Eles têm Artistas do Sanduíche! No Starbucks, você é atendido pelo nome! (E é por isso que no Starbucks você encontra notas de DÓLAR na caixinha da gorjeta!)

Os sanduíches do Subway não vem assim, mas bem que poderiam vir

Costumava dizer que gostava do Bob’s porque ele é mas humano, porque é nacional e até tentei defendê-lo quando a moça o acusou de não ter o negocinho com álcool em gel - coisa que nenhum funcionário o fez na hora, aliás, o que significa 1) que eles sabem que o Bob’s é uma bagunça mesmo, e 2) eles não faziam a mínima ideia de que a parada existia mesmo, hahahaha -, mas depois dessa não dá mais. Não vou dizer que nunca mais como por lá porque “nunca” é uma palavra muito forte e provavelmente vou comer. E se você freqüentar essas redes de fast-food com mais assiduidade, começa a perceber que nenhuma delas atende ao conceito de “comida rápida” mesmo (é claro que nenhuma consegue atingir o grau de incompetência do Bob’s, mas tem algumas que se esforçam!).

Mas agora, analisando friamente a situação, eu lanço outro questionamento: Será que na verdade a junk food não faz mal e o que causa os problemas de saúde é o estresse até ser atendido? Quer dizer, olhe pra mim, comi o negócio provavelmente supercontaminado, contendo tudo o que há de ruim no universo e passei muito bem. O que realmente estava me tirando do sério era a demora pra comer. E nem isso me fez mal, porque eu resolvi ser uma pessoa zen e encarar a situação toda com bom humor, levando em conta o meu dia e tal.

O que nos leva à conclusão que o problema todo não é o Bob’s. São esses clientes exigentes e estressados que eles têm e não entendem que lá as coisas funcionam num ritmo próprio. Eu, hein! Relaxem, gente.

Adorava essa propaganda! Uma vez minha irmã tirou uma foto igual a essa, porque ela é carente, e me agarra igual o milk shake do comercial.
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quarta-feira, 27 de março de 2013

Mil sóis resplandecentes, só que não


Aviso: Muitos spoilers, porque eu preciso desabafar. E por, favor, a capa do livro entrega pelo menos metade da história.

Primeira Parte - Mariam

Sempre que alguém me indica um livro dramático, eu respondo: "Não, obrigada. De drama já basta a minha vida".

E se por vezes a frase pode soar meio exagerada, depois de ler somente 30 páginas de A Cidade do Sol, posso afirmar com toda a certeza que ela não é. Porque, antes mesmo de chegar ao capítulo 5, eu já estava chorando. Minha chefe, que havia me dado o livro de presente, me perguntou qual o motivo do choro. E eu menti. Disse que era porque a história da personagem era muito triste, que a mãe dela a maltratava muito... 

Mas eu sabia muito bem porque estava chorando. E não era por que a história do livro era triste. Mas por ele me fazer constatar o quão triste é a minha própria vida.

Enquanto lia, escutei diálogos e situações inteiros ecoando dentro da minha própria memória e percebi muito de mim em Mariam, mesmo que não morasse no Afeganistão, não tivessem me proibido de estudar ou fosse a filha renegada de algum dos pais. A rixa entre os dois lados da família, a guerra psicológica dos adultos querendo ganhar o coração das crianças com histórias mal contadas, a infelicidade da mãe, incapaz de perseguir outro caminho que não o da vítima, o sentimento de estar no meio de uma situação mais complexa do que parece e em que todos são vítimas e ao mesmo tempo são vilões.

Curiosamente, depois dessa parte inicial, eu não chorei mais durante todo o restante do livro. E olha que desgraça foi o que não faltou.

Logo depois das lágrimas, o que senti durante a maior parte do tempo foi raiva. 

Após a morte de Nana, fiquei com raiva do pai de Mariam, que nunca teve a decência de assumir a filha. Fiquei com raiva daquela sociedade machista que despreza tanto as mulheres.  Fiquei com raiva da nossa própria sociedade por não ser tão diferente. E fiquei com raiva das mulheres por terem Chritian Grey como símbolo de herói romântico, quando tá na cara que o sujeito é tão doente quanto o truculento Rashid.

Segunda Parte – Laila

Na segunda parte, acompanhamos a história de Laila. Me apeguei também àqueles personagens, por motivos diferentes dos da 1ª parte. Se na primeira, chorei junto por me identificar com os dramas familiares de Mariam, na segunda eu embarquei com tudo na história de amor de Laila e Tariq.

Gostei de ver ali naquela aldeia o contraponto de tanta amargura e a esperança de um povo, que, mesmo sofrido, tinha sonhos e tentava ser feliz.

É claro que eu sabia que aquilo não ia durar muito. A capa do livro já contava algo que ainda não tinha acontecido, mas que para que de fato ocorresse, o romance dos dois estaria fadado à tragédia, é claro.

Mesmo assim torci. Me apaixonei por Tariq. Suspirei.

Não chorei pela morte dos irmãos de Laila. Mas senti uma pontada no coração com o comportamento psico-depressivo de sua mãe. E nessa parte eu quase chorei de novo.

Mas a partir daí eu senti raiva novamente. Não daquele povo, não daquela cultura, não daqueles personagens. Mas senti raiva do autor que mostrou seu lado maniqueísta e não de um jeito bom. Ele entrou num deserto de tragédia e não saiu de lá por mais de 200 páginas!!! 

E ele me irritou ainda mais porque foi sádico. A cada 30 páginas, o safado nos enchia de esperança para então acabar com qualquer pedaço dela que ainda tivesse restado.

Quando Tariq foi embora e mesmo sabendo que o destino de Laila era encontrar com Mariam, eu ainda assim torci. Torci para ela sair de lá, torci para encontrar com ele. Meu coração deu saltos de alegria quando sua família anunciou a ida para o Paquistão. E no dia que eles iam fugir, uma bomba atingiu a casa deles e matou os pais de Laila.

E não deu mais 20 páginas e o Tariq morreu também. De um jeito muito sem criatividade, aliás. Outro míssil.

Existe uma cota de tragédia que uma pessoa pode aguentar. E a minha já estava defitivamente muito próxima de se esgotar.

Parte 3 – Laila e Mariam

E aí a Laila encontrou com a Mariam, e casou com o Rashid, porque, adivinha só, ela estava grávida do Tariq.

Aí eu fiquei com mais raiva, porque, como eu já havia desconfiado desde que eles ficaram juntos, É CLARO, que ela ia ficar grávida, sozinha no mundo. É o clichê melodramático mais batido de todos. Tive a sensação de já ter visto essa história uma vez. Duas vezes, aliás. Mais de duas pra falar a verdade. Em O Clone, Caminho das Índias e América (nessa última tinha até a parte de tentar atravessas a fronteira, que eu comento mais a frente). Só que nas 3 novelas da Gloria Perez, pelo menos tinha uma dancinha no meio pra animar.

Mesmo assim, ainda dei mais uma chance à terceira parte da história, que prometia o encontro entre Laila e Mariam e a presença da primeira prometia mudar a vida da segunda. Achei bonitinho a interação das duas com o neném. Torci para as duas conseguirem fugir. Mas, é claro que, no fundo, eu também já sabia que aquilo não ia dar certo. Ainda faltavam 200 páginas pro livro acabar. Era óbvio que cedo ou tarde elas iam ser pegas (hello, eu já assisti América e a Sol só consegue entrar nos EUA na 2ª ou 3ª tentativa)

Existe uma cota de tragédia que uma pessoa pode aguentar. E a minha nesse momento se esgotou de vez.

Desde o início, mesmo com todo o sofrimento, torci para aqueles personagens. Mas a partir do momento em que a tentativa de fuga não deu certo e o talibã assumiu o governo, por mais que eu tivesse simpatia por elas, a ausência de esperança em seus horizontes me desanimou tal qual um torcedor que vê seu time perder por 3 a 0 faltando somente mais 15 minutos para o final. Foi por pouco que não abandonei o estádio.

Me perguntava se toda aquela tragédia era mesmo necessária porque depois que [SPOILER ]Mariam teve uma infância difícil, descobriu que seu pai tinha vergonha dela, viu a mãe ter se matado no mesmo dia, casou um cara velho na outra semana, perdeu um bebê e passou a apanhar do marido durante anos, ao passo que Laila perdeu amigos na guerra, os pais no dia em que pretendia se mudar, ficou sabendo da morte do namorado, descobriu que estava grávida, casou com o marido violento e agora também tomava surras quase que diariamente [SPOILER], eu já tinha entendido que a vida das duas era sofrida. Não precisava mais.

Mesmo assim, ainda tem muito mais cenas de violência doméstica e de desprezo pela mulher, uma de tortura, um parto a sangue frio, personagens passando fome, personagens abandonando filhos no orfanato... E MEU DEUS, ISSO É MESMO NECESSÁRIO????

E a essa altura ainda faltavam umas 100 páginas pro livro acabar e eu me perguntava como aquilo ainda podia ficar pior!!!!!

Pedia por favor para o juiz soar logo o apito final, para que meu time, que agora já tomava de 8 x 0, pelo menos não levasse mais nenhum gol! Pedia por favor, para que acabasse logo com esse sofrimento de livro porque eu já sabia que nada mais de bom ia acontecer aí. Não me contive e passei o olho nas últimas páginas que tinham a palavra “enterro”. Vi que ainda estávamos no ano de 95 e a história ainda iria além de 2003, bem depois do 11 de setembro, adentrando com a Guerra ao Terror, declarada pelo Bush no início da década.

Fiquei com raiva do autor de novo porque é claro que ele tinha mesmo que contar os últimos 40 anos do Afeganistão nos mínimos detalhes, mesmo que para isso ele precisasse arrastar seus personagens por 20 anos de sofrimento desnecessário em que não há avanço narrativo nenhum.

Ao invés da identificação com os personagens complexos que havia encontrado no início, só o que restava agora era uma mistura de novelas da Gloria Perez (sem as dancinhas) com um documentário sensacionalista que só faltava declarar apoio à invasão norte-americana no final e tangenciava um ode à cultura ocidental. Tudo era previsível e unidimensional e arrastado demais. Já tinha acabado o amor. Só não tinha acabado o livro.

Parte 4 – O final

Felizmente, eu estava errada, pois, nesse momento em que toda a esperança já tinha evaporado, eis que me aparece, no maior estilo Jamanta, Tariq, vivinho da silva, para esquentar novamente o meu coraçãozinho.

E então, finalmente se acendeu a luz do fim no túnel, e a história rumou em direção a um final agridoce, mais ou menos feliz, passando por momentos de tristeza, sim, mas principalmente de redenção. A Cidade do Sol deixava de ser uma narrativa sobre o país e o tratamento das mulheres no islã radical e voltava a focar em seus personagens, graças a Deus!

E ok, foi satisfatório, mas ainda acho que tudo isso podia ter terminado umas 100 páginas antes, quando a gente já tinha sacado que a vida de Mariam tomou sentido com a chegada de Laila, que ela tinha se tornado uma mulher mais segura de si, etc.

Na parte 3, em que tudo ficou insuportavelmente infeliz, a história teve uns dois ou três pontos de inflexão que permitiam o mesmo final, com a mesma coerência (um ajuste aqui, outro ali e a gente podia ter passado sem a parte do parto, da fome e do abandono da filha, pelo menos). Porque, afinal de contas, assim que a tentativa de fuga fracassou, ficou óbvio que o único jeito de sair daquela situação era matando o marido.

E mesmo depois disso, a predileção do autor por contar tudo nos mínimos detalhes, ainda arrasta o livro por mais 50 páginas desnecessárias. Uma elipse ali logo após a despedida das duas cairia bem, mas, pra quem já tinha mostrado tanta gente morrer, até que a opção por narrar a morte de sua personagem principal não é das mais recriminadoras. O que me deixou chateada mesmo foi como, já praticamente no final, o autor tangencia insinuações que associam a invasão norte-americana à volta da paz e da tranqüilidade.

No final, não foi uma experiência ruim. O livro é envolvente, tem um viés político interessante e até determinado ponto personagens bem construídos. Só que eu fico muito revoltada quando percebo maniqueísmo dramático nos autores. E de drama já basta a minha própria vida.

And sometimes it's a sad song
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segunda-feira, 11 de março de 2013

Dog with a blog


Já vi filmes com cachorros que falam. Já vi filmes com cachorros que desvendam mistérios. Filmes com cachorros-heróis. Filmes com cachorros que jogam futebol, basquete, hóquei, beisebol. Já vi filmes com cachorros com alto senso de moda. Já vi filmes com cachorros que cantam, dançam, morrem e vão pro céu. Adorava TV Colosso, um programa em que cachorros comandavam sua própria rede de TV. Já vi até filmes que os cachorros sabem se comunicar através de código-morse.

E achei que já tinha visto todo o tipo de histórias envolvendo cachorros inteligentes. Mas eu estava enganada.

Porque durante os meus pouco mais de 20 anos de existência, eu NUNCA na vida vi uma história com um cachorro que tem um blog.

Agora sim não falta mais nada.

Stan, o cão blogueiro é a nova série do Disney Channel e eu juro que se tivessem me contado e eu não tivesse visto a propaganda na TV, eu não teria acreditado. Porque é difícil de acreditar que alguém em sã consciência tenha tido a coragem de colocar uma história com uma premissa dessas no ar.

Mas quando você vai atrás do nome original da série, tudo se ilumina. Afinal, Stan, o cão blogueiro, não tem nem 10% do impacto do título original, que me fez rolar no chão de tanto rir: Dog with a Blog.


E eu ri tanto porque se antes era difícil de acreditar que tinham tido a coragem de fazer uma série de um cachorro que tem um blog, é ainda mais engraçado perceber que fizeram a série pelo simples motivo de que Dog rima com Blog. E vamos combinar que ficar repetindo Dog with a Blog, repetidamente, é bem engraçado.  (Experimente ficar falando “Dog with a blog” várias vezes pra você ver). Porque blog é uma palavra bem esquisita. Perto de dog, então, chega a ser bizarro!

E aí você começa a imaginar a reunião dos executivos do canal discutindo os rumos da programação no próximo ano, e se dá conta que o diálogo não pode ter sido nada muito diferente disso:

(E aí eu peço desculpas a você, por transcrever o tal diálogo em inglês, e ainda mais desculpas se escrever com algum erro, mas a questão é que, realmente em inglês é muito mais engraçado. Imagine a cena com legendas embaixo, ok?)

 - We could make a show with a dog. 
(A gente podia fazer uma série com um cachorro.)
- A dog? C´mon! We need something new! 
(Um cachorro? Fala sério! A gente precisa de uma coisa nova!)
- Yes, you’re right. Every story with intelligent dogs has been made… 
(É, verdade. Já fizeram todas as histórias com cachorros inteligentes possíveis…)
- Wait, don’t give up on dogs already. My kids love dogs. What rhymes dog?
 (Peraí, não vamos desistir dos cachorros ainda. Meus filhos adoram cachorros. O que rima com dog?)
- Blog!
- Yes! That´s it! Dog with a blog!  
(É isso! Dog with a blog!)
- That’s genius! A story of a dog who blogs! Let´s start it NOW! 
(Genial! Uma história de um cachorro que blog. Vamos começar AGORA!)

E assim acabou a reunião com os produtores felizes da vida, satisfeitos consigo mesmos, certos de que estavam revolucionando o gênero das histórias caninas.

E aí você acha que isso é o cúmulo da cara de pau deles e que não dá pra ficar mais absurdo, e vê que o slogan da série, aquela frase de efeito que o locutor do Disney Channel fala antes de começar o programa (tipo: “Sunny entre Estrelas: Uma comédia... sobre uma comédia!”, que já não é grande coisa, vamos combinar) é nada menos do que: “A dog...who blogs!”, como se com um nome desses (Dog with a blog), as pessoas ainda tivessem alguma dúvida do que ela se tratava, ou para garantir que elas não ouviram errado, a série é realmente sobre um cachorro que tem um blog.


Como bem comentou uma crítica do episódio piloto de Dog with a blog (sim, estou repetindo intencionalmente), é ainda mais interessante perceber que blogs são ferramentas de comunicação quase “à moda antiga”. Quer dizer, a Carly tem um portal com uma websérie só dela, a Vitória posta seu humor numa especíe de Twitter... Em matéria de interatividade, a Nickelondeon está colocando a Disney no chinelo. Por que apostar numa plataforma tão “ultrapassada”? Ora, a resposta é muito simples, e só ratifica a nossa teoria inicial sobre os motivos para criação da série: Blog rima com Dog! E isso basta! Toma essa, Nick!

Continuei minha pesquisa sobre Dog with a blog (desculpa, é mais forte que eu!) e a cada parágrafo que eu lia sobre a série, o negócio ficava ainda melhor. Quer dizer, além de ter um blog, o tal cachorro se comunica com outros cães online, escreve posts sarcásticos sobre sua própria família e, ao que parece, acessa “páginas proibidas” caninas (MEU DEUS, COMO É QUE A DISNEY DEIXOU ISSO IR PRO AR??????). Também descobri que logo nos primeiros episódios, o cachorro-protagonista foi demitido da série por problemas contratuais e substituído por outro (BOMBA! Série boa é assim, já começa com polêmica!).

E aí a melhor coisa de todas, o tal blog do dog EXISTE MESMO!


Pelo que falaram, a página na web está bastante desatualizada com os episódios da série e eu bem que queria ver as bizonhices que o cachorro escreve, mas, infelizmente, a página só estava disponível para internautas do EUA. (Depois tenho que lembrar de tentar acessar com o Ultrasurf ativado).

Ao contrário do que eu achava, a série ainda não foi cancelada e acho que já garantiu uma segunda temporada. E os nomes dos episódios são um melhor do que o outro:
  • Stan of the House
  • World of Woofcraft
  • The Bone Identity

Como uma blogueira de longa data, não me resta outra opção senão assistir a esteia no Disney Channel dia 23 de março. E eu acho que seria muita falta de profissionalismo de vocês, se não assistissem também.
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terça-feira, 5 de março de 2013

Orgulho e Preconceito e Vampiros


Sempre me perguntei o que seriam desses escritores defuntos caso ainda fossem vivos. Se seriam idolatrados como são, o que achariam da interpretação por vezes hiper-rebuscada de suas obras e das releituras... duvidosas que acabam ganhando com o passar do tempo. Como lidariam com a publicidade em massa, as feiras de livros, as adaptações cinematográficas, os brinquedinhos licenciados, a pressão do mercado editorial.

Por isso, assim que fiquei por dentro da sinopse de Jane Austen, a Vampira, sabia que cedo ou tarde teria de conferir essa história, mesmo não tendo terminado nenhum romance da escritora mais aclamada da literatura inglesa.

Imagine você que Jane Austen não morreu. Ela ainda está entre nós, é dona de uma pequena livraria no interior dos EUA e sofre para publicar um novo romance sob um pseudônimo. A desculpa para ela ainda habitar esse planeta? Ela é uma vampira.


Como disse, nunca li Jane Austen. Tentei encarar Orgulho e Preconceito uma vez e achei tudo muito parado. Não consegui acompanhar aquela história com personagens demais (em certo ponto não sabia nem mais quem era homem, quem era mulher, se tinha algum transexual no meio de tudo) e acontecimentos de menos. Respeito muito o trabalho de Austen e a admiro por seu subtexto feminista e tudo, mas essas histórias em que as pessoas só andam na brisa de dia e fazem dancinha de noite não são pra mim.

Entretanto não tive problemas para sacar a piadinhas internas com seus romances. Pra falar a verdade, senti que papei mosca foi na parte da crítica a escritoras de romance contemporâneas, já que o autor faz aquele tipo de deboche velado, mudando um pouco os nomes, apenas dando a entender de quem se trata, ao descrever as características de seus alvos. Assim como Jane, descobri que estou bem por fora do mercado editorial de romances. Dentre os poucos tiros que consegui captar estavam uma passagem óbvia em que Austen critica Gossip Girl, outra em que parece tirar sarro de Nora Roberts e mais outra que acusa uma escritora de não escrever seus próprios livros (nem lembro se era Nora Roberts também, talvez fosse).

O romance usa e abusa das gracinhas envolvendo a idade de Jane, a rixa com as irmãs Bronte e das situações embaraçosas vividas por Austen quando esta encara a publicidade de seu livro. E tem seu ponto alto quando coloca Jane tendo que se defender sem comprometer sua identidade ou enfrentando dificuldades para ser publicada ao mesmo tempo em que vê tanta gente pegando carona no seu sucesso, sem embolsar nem ao menos a grana dos direitos autorais. (Imagino o que Jane não deve achar de “50 tons de Sr. Darcy”...).


A sacada da ajudante de Jane ser uma ex-feminista ferrenha foi ótima (ela era integrante do Pussy Riot?), assim como todas as partes em que Austen comenta como as pessoas interpretam erroneamente seus romances. Mas talvez a passagem mais inusitada tenha sido ver Jane dando seu aval para Orgulho e Preconceito e Zumbis, muito provavelmente o livro que serviu de inspiração para esse aqui.
*Ah, a história de Jane viver solitária e ter um gato como animal de estimação foi bem esperta. Quem diria que Austen se tornaria a velha dos gatos?

Mas se Jane e a crítica ao mercado literário dão conta, o desenvolvimento dos personagens é falho. A ideia de ter Lorde Byron como um deles (também vampiro), tendo em vista que este último está por trás de alguns causos envolvendo as míticas criaturas na literatura, é ótima, mas esperava mais dele. A vilãnização excessiva de Byron, com direito a uma chantagem digna de vilãozinho de novela das oito lá no meio da história foi demais e afastou por um tempo o livro daquilo que ele mais tinha de interessante, que era a crítica ao atual mercado editorial. Mais à frente, o autor parece tomar consciência de como estava desperdiçando o potencial de Byron, ao torná-lo mais humano e até mais atrapalhado (coisa que já devia ter feito desde o início), mas peca por fazê-lo quase onipresente em todos os acontecimentos importantes dali em diante. São coincidências demais até para uma história de vampiros.

E falando em vampiros, bom, como você já deve ter percebido, a inserção deles neste meio é mera desculpa esfarrapada para explicar como os tais escritores defuntos ainda perambulam pelo nosso planeta. Eles não brilham no sol, nem se desvanecem sob o astro-rei, saboreiam um bom jantar, ficam cansados como qualquer um e não tem vergonha de dormir de noite (em camas). Levariam uma vida bem normal, sem nem dar na pinta sua verdadeira identidade, se não fosse o fato de a fome bater de vez em quando e terem de mordiscar algum pescoço para tapear o estômago. (O poder de hipnotizar mentes ainda funciona por aqui e explica tudo).

Já no ato final, a revelação da identidade da vilã foi GENIAL e eu já estava pronta para me rasgar em elogios a Michael Thomas Ford, mas tive que abortar a maioria deles depois do término do livro. Além do final em que tudo se resolveu de maneira quase anticlimática ([SPOILER] uma briguinha na livraria em que ninguém sai morto ou gravemente ferido? Sério?), o livro deixa tudo quase do mesmo jeito em que começou e a resolução da maioria dos conflitos (que já não eram muitos) para os próximos volumes (Sim, infelizmente é uma trilogia).
* Ah, esqueci de dizer, o negócio de desacordar um personagem com um livro do Stephen King foi engraçado!

Eu sei que a opção de serializar a história era tentadora, mas isso acabou por matar a maior parte do interesse do leitor, tendo em vista o gancho colocado no fim. Até ali, o fato de todo mundo ser vampiro era só uma desculpa para os escritores defuntos apresentarem-se vivos em pleno século XXI (aliás, me esqueci de dizer: impagável ver Jane Austen acessando a internet, lendo a Wikipédia e os blogs literários). Ao que parece, o autor quer transformar Jane Austen na líder de um exército-vampiro que terá uma guerra sem sentido à la Crepúsculo. 

Glossário:
UG2BK: "you've got to be kidding"
TLMINTWICEBPOTM:"The last man in the world whom I could ever be prevailed on to marry."

E aí é impossível não comparar este Jane Austen, A Vampira (Jane Bites Back, o nome original é bem mais legal) a outra série com sanguessugas e paródias que arrebatou meu coração há alguns anos atrás. Falem o que quiserem, mas Meg Cabot é mestra na arte de criar histórias interessantes e amarradinhas, com finais empolgantes. Além disso, Dona Meg tem a manha de arrumar seus arcos de maneira que as histórias sempre acabam no momento exato e de um jeito pelo menos satisfatório. 

Fico me perguntando se o segundo volume de Jane Vampira possui alguma crítica embutida a respeito do fenômeno da multiplicação das séries desnecessárias. Se sim, o escritor ganhou pontos comigo. Se não, perdeu uma ótima oportunidade de dar mais uma alfinetada no mercado editorial e nada mais justifica a extensão dessa história que é engraçadinha e vale a leitura, mas não tinha necessidade nenhuma de continuar.

PS. Pensando aqui, sabe outra coisa que eu queria ver num segundo volume dessa série? Jane Austen encontrando Anne Rice, Jane Austen encontrando Stephenie Meyer, Jane Austen encontrando E.L. James... Jane Austen formando uma liga de autores defuntos, estilo Vingadores, que dão fim em todos esses escritores ruins... O novo livro da Jane virando filme! Meu Deus, tantas ideias legais, e o cara insistindo nessa história de guerra de vampiros! Me dá esse negócio aqui que eu mesma escrevo!
PS2. Já imaginei até uma versão brasileira da história com Machado de Assis como chefe da Liga Vampira que vai caçar Paulos Coelhos e afins... José Alencar seria do clã inimigo. Clarice Lispector escreveria conselhos de sabedoria no Twitter. E não é que o negócio está ficando bom mesmo?
PS3. Não aguentei e fui ler um pedacinho do segundo volume da série que já começava com uma chacoalhada na blogosfera literária. Ok, acho que vale a pena! Parece seguir mais a linha das séries de chick lit do que os Crepúsculos da vida, com direito a casamento no final e o desafio de conhecer a família do noivo. Mas ainda acho que as minhas ideias são muito mais interessantes.
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